segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

É o maior! Éo maior! É o maior!

Danuza Leão
Colunista da Folha



Folha de São Paulo - Junho/2004

Encontrar Chico Buarque em algum lugar - qualquer lugar - cria sempre uma tensão. Mesmo nunca tendo visto Chico, todo mundo sabe quem ele é, acha que conhece e, num momento de distração e deslumbramento, cumprimenta (mas poucos ousam pedir seu autógrafo). Há os que nem olham, para fingir que estão respeitando sua privacidade, mas é impossível ignorar a presença de Chico.

Quando ele chegou ao Rio vindo de São Paulo, ainda garoto, freqüentava o Antonio’s, que era o segundo lar dos boêmios da cidade; sentava com os amigos e durante a madrugada era o troca-troca de mesa - como todo mundo, aliás.

Nesse tempo, no Rio, os shows brotavam assim, do nada: uma noite era na Faculdade de Arquitetura, outra, num teatro meio abandonado, e houve uma no colégio Sacré Coeur de Marie, onde Chico cantou. Os brotinhos babaram, mas ele saiu correndo apavorado.

Quando começou a se profissionalizar, morou na rua Prado Jr., uma espécie de Boca do Lixo do Rio, para ficar perto da boate Arpège, uma muvuca onde se apresentava. D. Maria Amélia, sua mãe, achava a boate chiquíssima, talvez por causa do nome.

Seus amigos são verdadeiros anjos de guarda e construíram uma sólida proteção em volta do seu ídolo. Se alguém pergunta a algum deles de que cor são os olhos de Chico, vai ouvir um “não sei”. E tem filhos? Não sabem. É compositor? Também não sabem, nunca ouviram falar: fidelidade é isso aí.

Segundo Ruy Guerra, Chico não existe, é ficção, e bem que pode ser. Ele é um mistério: nem precisa dar entrevistas, pois todo mundo sabe o que pensa, o que acha de quase tudo e em quem vota. Sorri muito, mas não fala: para escutar sua voz, só ouvindo um CD.

Chico foi responsável por grandes paixões e dores de cotovelo que pareciam eternas, quando as moças ouviam suas canções. Quem não cantou baixinho “mas devo dizer que não vou lhe dar o enorme prazer de me ver chorar”? Ou: “Deixa em paz meu coração, que ele é um pote até aqui de mágoa”, e “quantas águas rolaram, quantos homens me amaram bem mais e melhor que você”? Qual a mulher que não amou, sofreu, deu a volta por cima e se vingou, ouvindo e cantando Chico? Qual?

Ele nunca foi de sair muito, freqüenta pouquíssimos restaurantes, onde só é visto jantando com a ex, Marieta, e uma das filhas, joga futebol no estádio Vinicius de Moraes, seu campo particular, e continua fiel às suas preferências do tempo em que morou na Itália: massas e grapas. Campeão de futebol de botão, Chico modernizou-se e agora passou para os videogames - de futebol, é claro.

Está fazendo 60 anos, e nenhuma mulher do mundo trocaria ele por dois de 30. Chico lindo, Chico dono dos olhos cor de ardósia mais bonitos do mundo, Chico sensível, Chico feminista, Chico machista, Chico que finge que não olha pra mulher nenhuma, Chico sonso, Chico moita, Chico tudo.

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