sábado, 12 de janeiro de 2008

A CIDADE DE CAMAMU, BAHIA


Porto de embarcação para Barra Grande e a Baía de Camamu (terceira maior baía do Brasil em volumes de águas, depois das baías de Todos os Santos e de Guanabara), está localizada à margem do rio Acarai em meio a uma área de muito mangue. Antiga cidade colonial, Camamu foi construída em dois andares, como Salvador. Na cidade alta, uma igreja e antigas casas coloniais. Na cidade baixa, o porto e a feira. Para a maioria dos turistas, Camamu é apenas um lugar de passagem. Eles preferem se hospedar em Barra Grande ou nas praias da Península de Maraú.

Inicialmente habitada pelos índios Macamamus, a cidade originou-se de um povoado fundado em 1561 pelos Jesuítas, com o nome de Nossa Senhora de Conceição Macamamu. Os Jesuítas desenvolveram bastante a agricultura. A cidade tornou-se importante e chegou ser o maior produtor de farinha de mandioca do Brasil. Rica, ela atraiu a cobiça de piratas e invasores. Em 1624 e 1627 a cidade sofreu vários ataques dos holandeses. Para se proteger de novas invasões, a população obstruiu a passagem para o porto com pedras enormes que ficaram até hoje, obrigando os barcos a ziguezaguear no canal para atingir o porto.

Fonte: http://www.barragrande.net/

sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

Sobre o prêmio Molière e a Rede Globo


Entrevista ao Antônio Chrysóstomo
Revista Veja – 28 de outubro de 1976


VEJA — Durante a entrega dos prêmios Molière, dos melhores do teatro carioca, recentemente, no teatro Hotel Nacional, correu a notícia, ou boato, de que sua ausência e a de Paulo Pontes, escolhidos como melhores autores teatrais de 1975, por "Gota d'água", teria, vamos dizer, uma relação com tudo o que você disse acima.

CHICO — Muita gente disse: que atitude orgulhosa, antipática. Pois é, uma atitude antipática a gente tem de tomar de vez em quando. No caso, porque as pessoas se esqueceram de que, em 1975, quando "Gota d’água" foi considerada a melhor peça, no mesmo ano, para citar só um caso, "Abajur Lilás", de Plínio Marcos, foi proibida. Neste mesmo ano, "Rasga Coração", de Oduvaldo Vianna Filho, teve abortada uma tentativa de encenação, também por ordem da Censura. Eu e Paulo Pontes conversamos e chegamos à conclusão de que seria pouco ético botar smoking e ir lá receber um prêmio que talvez nem fosse da gente. Se "Abajur Lilás" ou "Rasga Coração" tivessem conseguido chegar ao público, portanto disputar aquele prêmio, será que nós teríamos sido os autores escolhidos? Por isso não fomos.

VEJA — A festa do Molière foi transmitida pela Rede Globo. E seu relacionamento atual com a Globo parece não ser dos melhores.

CHICO — Não é mesmo. Mas isso não influiu no fato de estarmos ausentes da festa de entrega dos prêmios. Agora, se quer saber, meu caso com a Globo tem outras implicações. Na época em que mais precisei de dinheiro, em que a Censura estava mais brava, eu todo endividado, o pessoal da Globo, ninguém em particular, apenas um porta-voz da máquina Globo de Televisão, disse que eu estava proibido de aparecer em seus programas. Depois suspenderam a proibição e ficou um problema cíclico, de proibição ou ausência voluntária, de minha parte. Porque nunca ninguém se responsabilizou pela proibição, porque a Globo é prepotente, resolvi me afastar voluntariamente de seus programas. Chegaram a dizer que não precisavam de mim. Eu também não preciso dessa máquina desumana, alienante. Então estamos quites. A verdade é que quiseram fazer molecagem comigo. E isso eu não admito. Máquina nenhuma do mundo, em nome de nada, pode desrespeitar um ser humano no seu direito básico de trabalhar para seu sustento.

VEJA — Já que se chegou ao terreno pessoal, vamos nos aprofundar. Quando viveu fora do Brasil, quando as proibições aumentaram, houve desânimo, vontade de parar?

CHICO — Desânimo? Sim. Quase desespero. Mas surgia a idéia de que, se estavam me proibindo, proibindo tudo que fazia, isso devia ter alguma importância. Meu trabalho, então, parecia poder ser útil a alguém. Minha resistência também. Daí eu só podia resistir. E continuei.

quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

HUMOR

Vendo o filho chegar da escola com um olho roxo, a mãe, preocupada, pergunta o que aconteceu. Ele responde que brigou com um coleguinha de turma.
- Que coisa mais feia! – exclama a mãe, chocada. – Amanhã você vai levar um chocolate para ele e vocês vão fazer as pazes.
No dia seguinte o menino chega em casa com o outro olho roxo.
- O que foi que aconteceu desta vez? – pergunta a mãe.
- Ele quer outro chocolate.

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Três homens bebendo num bar contam vantagem sobre seu desempenho na noite anterior.
José conta:
- Massageei minha mulher com um azeite de oliva finíssimo, depois fizemos amor e a fiz gritar por cinco minutos seguidos.
Então, Pedro, que não podia ficar para trás, diz:
- Eu fiz massagem em todo o corpo da minha mulher com um bálsamo especial afrodisíaco, depois fizemos amor e ela gritou por 15 minutos seguidos.
Por fim, Sílvio se gaba:
- Isso não é nada! Massageei minha mulher acariciando todo o seu corpo com uma manteiga de búfula especial, depois fizemos amor e ela gritou por seis horas seguidas.
Os outros dois, assustados, perguntam:
- Seis horas? E o que você fez para sua mulher gritar por tanto tempo?
E ele responde:
- Limpei a mão na cortina.

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O marido pergunta à mulher:
- O que você quer de presente de aniversário, querida?
- Um radinho.
- Um radinho?
- É, desses pequenininhos, que vêm com um carro do lado de fora!

quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

QUARTA POÉTICA


Matias de Albuquerque
Ruy Guerra


Meu coração tem um sereno jeito
E as minhas mãos o golpe duro e presto
De tal maneira que, depois de feito
Desencontrado, eu mesmo me contesto

Se trago as mãos distantes do meu peito
É que há distância entre intenção e gesto
E se o meu coração nas mãos estreito
Me assombra a súbita impressão de incesto

Quando me encontro no calor da luta
Ostento a aguda empunhadora à proa
Mas o meu peito se desabotoa

E se a sentença se anuncia bruta
Mais que depressa a mão cega executa
Pois que senão o coração perdoa

terça-feira, 8 de janeiro de 2008

Edu Lobo fala da sua parceria com Chico

Folha de São Paulo - 09/01/94

Acho que foi o Stravinski que disse que existe o compositor e o inventor. A princípio todo mundo poderia ser compositor. Agora inventor seria aquele que a gente reconhece assim que escuta uma parte da música. Possui uma assinatura, uma caligrafia própria. Por exemplo, posso escutar qualquer coisa de Ravel que reconheço imediatamente. O Chico é um inventor.

A nossa parceria começou tarde, mas já rendeu mais de 30 músicas. A primeira música, “Moto-contínuo” (1981), foi feita para o disco que gravei com o Tom Jobim. O Chico regravou em “Almanaque” (1981). Foi feita sem patrão e sem patrocínio. Em seguida, fizemos uma série de trabalhos sob encomenda, “Circo Místico” (1983), adaptação de um poema de Jorge de Lima pelo Naum Alves de Souza, “Dr. Getúlio” (1983) de Dias Gomes, “O Corsário do Rei” (1985) do Augusto Boal e, para o balé do Teatro Guaíra, “Dança da meia-lua” (1988), com roteiro de Ferreira Gullar. A nossa última parceria, “Nego”, faz parte do disco que acabei de lançar. E o que mais impressiona é que eu faço a música e quando a letra vem, ela vem redonda, não precisa ajustar nada.
Recentemente aconteceu uma coisa curiosa. Num dos nossos últimos trabalhos o Chico fez uma letra, “Cegos em Granada”, não sei por que razão não aproveitamos. Resolvi fazer uma brincadeira com o Chico, musiquei esta letra, botei numa fita e enviei para ele. A principio ele não reconheceu, depois me telefonou. Fiz meio à traição.

segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

Kid Gerúndio

Por Deco Lage

Sob o sol escaldante do deserto, um homem está cavalgando. Um menino, que o está observando, vê que ele está armado com winchester e dois colts.O menino não está entendendo o quê aquele homem sombrio, que está fumando um charuto e cujo cavalo está marchando calmamente para a sua cidade, está pretendendo. De qualquer forma, o menino sai correndo.

O sol já se pondo no horizonte, os coiotes uivando e o belo animal negro está trotando, enquanto vai adentrando a cidade esquecida por Deus.

Ao ver o que está acontecendo e presumindo o que vai acontecer, o xerife fica tremendo, o prefeito fica se borrando, o barbeiro só olhando e a maior parte da população se escondendo. Todos vêem o homem amarrando o corcel na frente do saloon; ouvem o barulho de suas botas na calçada de madeira e a portinhola rangendo. Os mais curiosos vão correndo para as janelas grandes do lugar para ficar bisbilhotando.

Lá dentro todo tipo de facínora está bebendo, jogando, escarrando. Mas o crápulas ao verem aquele homem, que parece ser um conhecido, caminhando em direção ao balcão, vão parando com suas “diversões”.

A dona do saloon observando do alto da escada, com os espartilhos lhe sufocando, prefere ficar ali, à distancia, cismando. Enquanto o barman tenta ser cordial com o visitante:

- Como está vivendo, caubói?
E o homem secamente responde:
- Vou levando.

Enquanto fez essa pergunta, o barman viu seis jogadores de pôquer se levantando. O barman, despistando, foi logo se abaixando. O pianista foi se retirando de mansinho. O silêncio ficou imperando.


De repente, só ouviu balas zumbindo, bocas gritando, corpos caindo e gemendo, prostitutas chorando e muito sangue jorrando.


Com a fumaça abaixando e o perigo acabando, viram o homem soprando o cano de seus revólveres e depois tomando o último trago daquele uísque ordinário.

Calmamente para a saída ele foi se encaminhando, batendo portinhola e ouviram as suas botas rangendo. Em seguida, com o cavalo ainda resfolegando, o homem foi desaparecendo no horizonte.




CORRENTE


LUIZ BOTELHO


De todos os profissionais que estudaram e analisaram as músicas de Chico Buarque, nenhum, pelo menos que eu tenha conhecimento, fez qualquer menção à canção “Corrente”. Como considero esta uma das mais criativas composições de Chico, atrevo-me a tecer alguns comentários sem a pretensão, evidentemente, de considerá-los uma análise propriamente dita.

“Corrente” foi gravada no elepê “Meus Caros Amigos”, em 1976, junto com obras-primas como “O Que Será”, “Mulheres de Atenas”, “Olhos nos Olhos”, “Vai Trabalhar vagabundo”, “Passaredo” e “Meu Caro Amigo”. Talvez por essa razão tenha passado despercebida do público - não lembro de tê-la ouvido tocar nas estações de rádio uma vez sequer.

A letra é composta por 16 versos, dispostos aos pares, onde Chico faz uma autocrítica do seu samba começando a cantá-la dessa forma:

“Eu hoje fiz um samba bem pra frente

Dizendo realmente o que é que eu acho


Eu acho que o meu samba é uma corrente

E coerentemente assino embaixo


Hoje é preciso refletir um pouco

E ver que o samba está tomando jeito


Só mesmo embriagado ou muito louco

Pra contestar e pra botar defeito


Precisa ser muito sincero e claro

Pra confessar que andei sambando errado


Talvez precise até tomar na cara

Pra ver que o samba está bem melhorado


Tem mais é que ser bem cara de tacho

Não ver a multidão sambar contente


Isso me deixa triste e cabisbaixo

Por isso eu fiz um samba bem pra frente”


Percebe-se que Chico faz um elogio ao seu samba, que considera bem pra frente, e para contestar e botar defeito só mesmo embriagado ou muito louco ou ter a cara de tacho de não ver a multidão sambar contente, embora seja sincero e claro confessando que andou sambando errado.

No entanto, ao repetir a música, Chico troca os pares, juntando o segundo verso do primeiro par com o primeiro verso do segundo, o segundo verso do segundo par com o primeiro verso do terceiro, e assim por diante. Veja o que acontece:

“Dizendo realmente o que é que eu acho

Eu acho que o meu samba é uma corrente


E coerentemente assino embaixo

Hoje é preciso refletir um pouco


E ver que o samba está tomando jeito

Só mesmo embriagado ou muito louco


Pra contestar e pra botar defeito

Precisa ser muito sincero e claro


Pra confessar que andei sambando errado

Talvez precise até tomar na cara


Pra ver que o samba está bem melhorado

Tem mais é que ser bem cara de tacho


Não ver a multidão sambar contente

Isso me deixa triste e cabisbaixo


Por isso eu fiz um samba bem pra frente

Dizendo realmente o que é que eu acho”


Apesar dos versos serem os mesmos, o sentido muda completamente e o que antes era elogio passa agora a representar uma crítica ao seu samba que, embora Chico considere-o bem pra frente, só mesmo embriagado ou muito louco pra ver que ele está tomando jeito ou ser bem cara de tacho pra ver que o samba está bem melhorado. Talvez precise até tomar na cara pra confessar que andou sambando errado e se for muito sincero e claro irá contestar e botar defeito.

Para finalizar, Chico canta a música de baixo para cima: “Isso me deixa triste e cabisbaixo / Não ver a multidão sambar contente / Tem mais é que ser bem cara de tacho / Pra ver que o samba está bem melhorado...”.


Realmente uma corrente simplesmente genial.

John Lennon Socialista






Em 1971, após a separação dos Beatles e em meio ao clima de radicalização



da esquerda, John Lennon e Yoko Ono concederam uma histórica entrevista



a Robin Blackburn e Tariq Ali, publicada em Red Mole (Toupeira Vermelha).
A entrevista é memorável por registrar como Lennon elabora em uma mesma
narrativa a sua origem de classe, a emancipação dos traumas de uma infância
de abandono através da análise, a superação dos anos de droga
e busca de culturas místicas, o encontro com Yoko que lhe abriu a perspectiva
feminista, a inspiração em Marx e a imaginação socialista e revolucionária.
A seguir, registramos alguns trechos marcantes da entrevista.






“Eles me criticaram por cantar 'Poder para o Povo',

dizendo que nenhuma facção pode deter o poder. Bobagem.


O povo não é uma facção. Povo significa todas as pessoas.


Penso que cada um deveria possuir tudo de forma igualitária


e que o povo deveria ser também proprietário das fábricas


e ter participação na escolha de quem as dirige e o que deve ser produzido.


Estudantes deveriam ter o direito de escolher seus professores.”

“A canção Imagine, que diz, 'Imagine que não há mais religião,

não mais países, não mais política...' é virtualmente o Manifesto Comunista...

Hoje Imagine é um grande sucesso em quase todo lugar

– uma canção anti-religiosa, anti-convencional, anti-capitalista,

mas porque ela é suave é aceita.”





“Eu gosto disso (que os grevistas cantem 'Todos nós vivemos

com pão e margarina' no ritmo da canção Yellow Submarine).

E gostava quando torcidas de futebol nos estádios cantavam

All Together now (Todos juntos agora).

Sinto muita alegria quando o movimento na América canta

Give peace a chance (Dê uma chance para a paz)

porque compus esta canção pensando nisso.

A minha expectativa é que ao invés de cantar We shall overcome

(Nós conquistaremos), do século XIX, tivéssemos algo mais contemporâneo.

Senti uma obrigação de compor uma canção que pudesse ser cantada

nos bares ou em manifestações. Por isso gosto de compor atualmente

canções para a revolução”.





“Quando comecei, rock and roll em si mesmo era uma revolução

para pessoas da minha situação e idade. Precisávamos alguma coisa

alta e clara para quebrar toda a insensibilidade e repressão

que nos acompanharam desde quando éramos crianças.

Tínhamos consciência de que começamos imitando a música dos americanos.

Mas pesquisamos e descobrimos que ela era metade branca e ocidental

e metade blues e ritmos negros. Muitas das canções vieram da Europa

e da África e agora estavam voltando para nós.

Algumas das melhores canções de Bob Dylan vieram da Escócia,

Irlanda ou Inglaterra. Embora deva dizer que as canções mais interessantes

para mim eram as dos negros porque elas eram mais simples.

Elas falavam diretamente em mexer o seu traseiro ou o seu pau,

o que era realmente uma novidade. E haviam também canções rurais

que expressavam o sofrimento que eles viviam.

Não podiam se expressar de forma intelectual e tiveram que cantar

em poucas palavras o que estava ocorrendo com eles.

E tinham os blues das cidades, muitos deles sobre sexo e luta.

Muitos eram uma forma de auto-expressão mas apenas nos últimos anos

eles se expressaram plenamente com o Black Power,

como Edwin Star e seus discos de luta.

Antes disso muitos cantores negros estavam ainda envolvidos

com a problemática de Deus; com muita freqüência cantavam

'Deus vai nos salvar'. Mas os negros estavam cantando direta

e imediatamente sobre seu sofrimento e também sobre sexo.

Era o que eu mais gostava.”


“Parece que todas as revoluções terminam com o culto à personalidade

– mesmo os chineses parecem precisar de um grande-pai. Penso que isto

ocorre em Cuba também, com Che e Fidel... Na tradição do comunismo ocidental,

teríamos que criar uma imaginação dos próprios trabalhadores

serem para si mesmo a figura do grande-líder.”



“Após a revolução, você tem o desafio de manter as coisas em movimento,

selecionando entre diferentes visões. É bastante natural

que os revolucionários tenham diferentes soluções, que eles se dividam

em diferentes grupos, é a dialética, não é – mas ao mesmo tempo

eles precisam estar unidos contra o inimigo, para solidificar uma nova ordem.

Não sei qual a resposta; obviamente Mao tem consciência deste problema

e mantém as coisas em movimento.”


“E as mulheres também são muito importantes, não podemos ter uma revolução

que não envolva e emancipe as mulheres. É sutil como se fala da superioridade

masculina. Levou algum tempo para que eu compreendesse que o meu machismo

estava cerceando certas áreas para Yoko. Ela é uma socialista

radicalmente libertária ('red hot liberationist') e logo me fez notar

como eu estava errado, mesmo quando parecia para mim agir naturalmente.

Estou sempre interessado em saber como pessoas que se dizem radicais

tratam as mulheres.”


“(Para destruir o capitalismo na Inglaterra), penso que o único caminho

é tornar os operários conscientes da sua sofrida posição a que estão submetidos,

dos sonhos que os cercam. Pensam que estão em um maravilhoso país

da liberdade expressão. Compram carros e televisões e acham

que não há nada mais na vida. Estão condicionados a deixarem os patrões

mandarem, a verem seus filhos massacrados nas escolas. Estão sonhando

o sonho de outros, não é um sonho autêntico deles. Devem compreender

que os irlandeses e os negros estão sendo reprimidos e que eles serão os próximos.

Tão logo eles tomem consciência de tudo isso, podemos começar a fazer algo.

Os trabalhadores têm de começar a assumir. Como Marx disse:

'Para cada um segundo sua necessidade'. Penso que isto seria muito adequado aqui.

Mas teríamos que infiltrar nas Forças Armadas porque eles estão bem treinados

para nos matar a todos. Temos de começar tudo isso a partir de onde

nós próprios estamos sendo oprimidos. A idéia não é confortar as pessoas,

não fazer elas se sentirem melhor mas conscientes do péssimo estado em que estão,

constantemente fazer com que encarem as degradações e humilhações

a que estão submetidos para ter o que chamam de

um salário capaz de cobrir o custo de vida.”






Fonte




site da Fundação Perseu Abramo






domingo, 6 de janeiro de 2008

Um Torcedor Triste


LUIZ BOTELHO

Na década de 70, os grandes gênios do futebol brasileiro atuavam no sul do país. Muitos bons jogadores, por não ter espaço no sul, vieram fazer carreira no Norte-Nordeste. Foi nesta época que passei a acompanhar os jogos do Bahia na Fonte Nova. Meu time manteve por muitos anos uma espinha dorsal formada por Sapatão, Baiaco, Fito, Douglas e Beijoca. De 1970 a 1979, comemorei nove títulos de campeão baiano. É bem verdade que no âmbito nacional o Bahia deixava muito a desejar, senão vejamos: 1970 – 6° colocado entre oito clubes do Grupo A; 1971 – 13° entre 20 participantes; 1972 – 18° de 26; 1973 – 17° de 40; 1974 – 20° de 40; 1975 – 25° de 42; 1976 – 8° de 54; 1977 – 11° de 68; 1978 – 7° de 74; 1979 – 46° de 94. Mas eu era um torcedor feliz porque meu foco principal era o campeonato regional.

Na década de 80, os grandes gênios do futebol brasileiro migraram para o exterior. Os bons jogadores passaram a atuar no sul do país e as nossas revelações sonhavam em fazer carreira nas regiões sulistas e ficava difícil segurá-los por muitas temporadas. O Bahia perdeu sua espinha dorsal, mas eu continuava a ser um torcedor feliz, pois de 1980 a 1989 comemorei sete títulos de campeão estadual e um brasileiro. O desempenho do Bahia no campeonato brasileiro ainda não era satisfatório, embora já se pudesse notar certo equilíbrio a partir de 1985, talvez um função da ausência dos grandes gênios no futebol do sul, senão vejamos: 1980 – 26° de 44; 1981 – 16° de 44; 1982 – 14° de 44; 1983 – 21° de 44; 1984 – 26° de 41; 1985 – 12° de 44; 1986 – 5° de 48; 1987 – 11° de 16; 1988 – 1° de 24; 1989 – 18° de 22.

Na década de 90, os grandes gênios e os bons jogadores do futebol brasileiro atuavam no exterior. Nossas revelações sonhavam em jogar também no exterior e não era mais possível segurá-los nem por uma temporada. A Copa do Brasil foi criada e, no final da década, também a Copa do Nordeste, mas estes campeonatos eram programados para o mesmo semestre do campeonato regional, que foi pouco a pouco perdendo sua importância. Nesta época, também, foram dados os primeiros passos para a “moralização” do futebol brasileiro e, pela primeira vez desde 1971, o Bahia não disputou o campeonato brasileiro da 1ª divisão, em 1998. Os cinco títulos estaduais (um deles dividido com o Vitória) e o bicampeonato do Nordeste não foram suficientes para me tornar um torcedor plenamente feliz. No campeonato brasileiro, o Bahia ficou nas seguintes colocações: 1990 – 4° de 20; 1991 – 13° de 20; 1992 – 18° de 20; 1993 – 30° de 32; 1994 – 7° de 24; 1995 – 17° de 24; 1996 – 22° de 24; 1997 – 23° de 26; 1998 e 1999 – não disputou.

Estamos em um novo milênio. Os grandes gênios, os bons jogadores e as nossas revelações atuam no exterior. Os que ainda não foram descobertos jogam no sul do país. O Bahia tenta armar um time novo a cada semestre, sem sucesso. Nem sequer comemorei o único título baiano em 2001. Ainda bem que em 2000 deram um jeitinho na “moralização” do futebol brasileiro e criaram a Copa João Havelange e o Bahia retornou à 1ª divisão com os seguintes desempenhos: 2000 – 22° de 29; 2001 – 8° de 28; 2002 – 19° de 26; 2003 – 24° de 24; 2004 em diante não mais disputou.

Tornei-me um torcedor triste.

Apóstrofos