sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

Sobre o prêmio Molière e a Rede Globo


Entrevista ao Antônio Chrysóstomo
Revista Veja – 28 de outubro de 1976


VEJA — Durante a entrega dos prêmios Molière, dos melhores do teatro carioca, recentemente, no teatro Hotel Nacional, correu a notícia, ou boato, de que sua ausência e a de Paulo Pontes, escolhidos como melhores autores teatrais de 1975, por "Gota d'água", teria, vamos dizer, uma relação com tudo o que você disse acima.

CHICO — Muita gente disse: que atitude orgulhosa, antipática. Pois é, uma atitude antipática a gente tem de tomar de vez em quando. No caso, porque as pessoas se esqueceram de que, em 1975, quando "Gota d’água" foi considerada a melhor peça, no mesmo ano, para citar só um caso, "Abajur Lilás", de Plínio Marcos, foi proibida. Neste mesmo ano, "Rasga Coração", de Oduvaldo Vianna Filho, teve abortada uma tentativa de encenação, também por ordem da Censura. Eu e Paulo Pontes conversamos e chegamos à conclusão de que seria pouco ético botar smoking e ir lá receber um prêmio que talvez nem fosse da gente. Se "Abajur Lilás" ou "Rasga Coração" tivessem conseguido chegar ao público, portanto disputar aquele prêmio, será que nós teríamos sido os autores escolhidos? Por isso não fomos.

VEJA — A festa do Molière foi transmitida pela Rede Globo. E seu relacionamento atual com a Globo parece não ser dos melhores.

CHICO — Não é mesmo. Mas isso não influiu no fato de estarmos ausentes da festa de entrega dos prêmios. Agora, se quer saber, meu caso com a Globo tem outras implicações. Na época em que mais precisei de dinheiro, em que a Censura estava mais brava, eu todo endividado, o pessoal da Globo, ninguém em particular, apenas um porta-voz da máquina Globo de Televisão, disse que eu estava proibido de aparecer em seus programas. Depois suspenderam a proibição e ficou um problema cíclico, de proibição ou ausência voluntária, de minha parte. Porque nunca ninguém se responsabilizou pela proibição, porque a Globo é prepotente, resolvi me afastar voluntariamente de seus programas. Chegaram a dizer que não precisavam de mim. Eu também não preciso dessa máquina desumana, alienante. Então estamos quites. A verdade é que quiseram fazer molecagem comigo. E isso eu não admito. Máquina nenhuma do mundo, em nome de nada, pode desrespeitar um ser humano no seu direito básico de trabalhar para seu sustento.

VEJA — Já que se chegou ao terreno pessoal, vamos nos aprofundar. Quando viveu fora do Brasil, quando as proibições aumentaram, houve desânimo, vontade de parar?

CHICO — Desânimo? Sim. Quase desespero. Mas surgia a idéia de que, se estavam me proibindo, proibindo tudo que fazia, isso devia ter alguma importância. Meu trabalho, então, parecia poder ser útil a alguém. Minha resistência também. Daí eu só podia resistir. E continuei.

Um comentário:

Anônimo disse...

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