quarta-feira, 14 de maio de 2008

quinta-feira, 8 de maio de 2008

Uma jovem donzela esforça-se tanto para manter a castidade que teve um colapso nervoso. Foi consultar um terapeuta sexual, que a aconselhou a fazer um cruzeiro. Ela assim o fez. À noite, enquanto os passageiros se divertiam no salão, ela ficava escrevendo em seu diário:
“Segunda-feira. Hoje conheci o comandante. É um rapaz forte, moreno, de olhos azuis. Prometeu que ia me ensinar a comandar o navio.
Terça-feira. Em vez da prometida lição, o comandante resolveu me convidar para um jantar a dois amanhã.
Quarta-feira. O encontro foi muito agradável, mas depois do jantar o comandante me olhou de forma estranha. Corri imediatamente para o meu camarote.
Quinta-feira. O comandante disse que se eu não fosse para a cama com ele, afundaria o navio.
Sexta-feira. Estou fascinada! Salvei mais de mil vidas.”


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Delegado interrogando o mendigo:
- A senhora que deu queixa do senhor foi tão gentil em lhe dar um pão. Por que o senhor jogou uma pedra no vidro da janela da casa dela?
- Que pedra, seu delegado! Aquilo era o pão que a muquirana me deu!

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O velho caubói durão disse ao neto que o segredo da longevidade era colocar uma pitada de pólvora no mingau todas as manhãs.
O neto fez isso religiosamente e, de fato, viveu até os 93 anos. Ao morrer, deixou para trás 14 filhos, 28 netos, 35 bisnetos e um buraco de cinco metros na parede do crematório.

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Durante a prova de zoologia, o professor coloca o pé de um passarinho sobre a carteira do aluno e ordena:
- Examine isso e me dê a espécie e a família a que pertence e um resumo de seus hábitos migratórios.
- Mas como vou saber tudo isso só de olhar para este pé de passarinho?
- Sua nota é zero! Qual o seu nome e a que turma você pertence?
- Olhe e adivinhe! – responde o aluno, tirando o sapato e mostrando o pé.

sábado, 3 de maio de 2008

Chico e o sucesso - 1988

Arthur Xexéo

Na contracapa de seu primeiro LP, lançado em 1966, o próprio Chico Buarque tentava se apresentar. “Pouco tenho a dizer além do que vai nestes sambas”, resumia. E que sambas! Neste primeiro disco, Chico já cantava Olê olá, Pedro pedreiro. Passados 22 anos, a situação não mudou muito. Que mais dizer de Chico Buarque além do que vai em seus sambas, maxixes, marchinhas, chorinhos, marchas-rancho, boleros, sambas-canções, reggaes, rocks, sambas-enredo, blues e o que mais ele tenha composto numa carreira formada por uma quase inacreditável sucessão de clássicos? De A banda a Vai passar foram duas décadas de incontestável genialidade e adesão do público.

A genialidade, às vezes, foi contestada. Mas a adesão do público, nunca. Ela começou, aliás, bem antes de seu primeiro disco. Em 1962, durante a Semana Cultural do Colégio Santa Cruz, em São Paulo, a platéia de estudantes vibrava com a apresentação da dupla Carioca e Rutinha. Ninguém sabe que fim levou a Rutinha. Mas o Carioca, que no tal show mostrava A marcha, de sua autoria, transformou-se na unanimidade nacional que, quatro anos depois, arrebataria o Brasil com A banda. Só o Brasil não. Em 1978, A banda passou a fazer parte do repertório da Band of Irish Guards, uma das cinco corporações musicais que se apresentam durante a troca de guarda do Palácio de Buckingham. Chico estourou na Inglaterra e em todos os recantos do mundo onde prevalece o bom gosto musical.

Qual foi o segredo? De início, dizia-se que ele recuperava a tradição de Noel Rosa e chamava-se a atenção, exclusivamente, para a sua poesia. “Chico Buarque tem com as palavras uma relação de amor”, escreveu certa vez o cronista José Carlos Oliveira. Mas não era só isso. Não foi a poesia de Chico, mas a bem construída melodia de Pedro pedreiro, cantada na Faculdade de Arquitetura que o artista cursou antes de estourar com A banda no Festival da TV Record de 1966, que levou o pessoal do TUCA a convidá-lo para musicar o poema Morte e vida severina, de João Cabral de Meio Neto. A crítica da época se espantou. Chico não compôs uma música para Morte e vida. Ele descobriu e revelou a música do poema.

Passou-se a dizer então que eram seus olhos verdes e o incansável jeito de bom moço que o levaram ao sucesso a partir das telas de TV. Outra bobagem. No auge deste propalado bom mocismo, Chico estreou como autor teatral, em 1968, com Roda viva, uma critica cheia de maus modos à maneira como ídolos populares são forjados. Na ocasião, Nelson Rodrigues o atacou. “A única coisa válida no texto são 450 palavrões que o diretor José Celso injetou”, resumiu o dramaturgo. Nelson Rodrigues não gostou: Chico Buarque estava definitivamente consagrado.

Talvez a marca de Chico Buarque nestes 22 anos de carreira seja a radicalidade com que exerceu sua arte. Ele foi romântico, e radicalmente romântico, quando o país ainda se permitia a romantismos. E cantou Carolina, Januária e uma série de moças na janela. Ele foi provocador, e radicalmente provocador, numa época que o compositor chamou mais tarde de “página infeliz da nossa história” em que não se permitiam provocações. E cantou Apesar de você como porta-voz de quase toda a Nação. Foram mais de 100.000 compactos vendidos antes de o Governo apreender o disco. Ele foi amargo, e radicalmente amargo, num período em que o país não tinha mais motivos para se divertir com canções. E cantou Construção, Deus lhe pague. Enfim, ele foi otimista, e radicalmente otimista, quando o Brasil acreditava que se abria para um novo tempo. E cantou Vai passar.

Aprendi a gostar de música brasileira por causa de Chico Buarque. Entrei numa fila numa lojinha da Rua Barata Ribeiro, no Rio, para comprar o compacto simples em que Nara Leão cantava A banda. A loja tinha duas vendedoras. Uma só atendia quem procurava A banda. A outra cuidava do resto dos fregueses. Torci por Carolina num festival do Maracanãzinho. Fiz parte de muitos corais improvisados em festas adolescentes para entoar Noite dos mascarados. Vaiei Sabiá. Eu também não percebi na época a delicadeza deste canto de exílio. Ensaiei um sorriso de vingança quando ouvi no rádio pela primeira vez a empolgante Apesar de você. Tentei várias vezes decorar a letra de Cálice para aumentar o coro dos shows em que Chico e o MPB-4 não podiam cantar a música. Durante um tempo, tinha mania de chorar quando ouvia o Samba de Orly. Comemorei a volta de muitos amigos com Feijoada completa na vitrola. Corri para comprar Sinal fechado, o LP em que Chico canta músicas de outros compositores, e, até hoje, de toda a turma de craques que compõem o disco, o meu favorito é Julinho da Adelaide. Comemorei, com alguns milhares de brasileiros, a volta de Chico aos palcos na turnê que ele realizou no inicio do ano. Sei que a minha história não é muito original. É a história de uma geração.

Ninguém cantou com mais precisão a História do Brasil do que Chico Buarque nestes 22 anos. Para saber como estava indo o país, bastava ouvir seu último disco. Taí outra marca da obra de Chico: ele foi, durante este tempo todo, o mais arguto dos repórteres da MPB. E em nenhum momento, em favor da boa reportagem, e o Brasil urbano ainda não encontrou um retratista mais fiel, ele desmereceu seus títulos de bom poeta e compositor. Ouça logo este disco. Que mais se pode dizer de Chico Buarque além do que vai nestes sambas?

quinta-feira, 1 de maio de 2008

HUMOR

O dono de uma festa resolveu mandar todos os penetras embora, mas de forma educada, pois não queria dar vexame. Disse ao microfone:
- Por favor, os convidados do noivo queiram se colocar à minha direita.
Muitas pessoas se dirigiram para a direita do anfitrião. Ele voltou a dizer:
- Por favor, agora os convidados da noiva queiram se postar à minha esquerda.
Novamente, muitas pessoas se dirigiram à sua esquerda. E então ele fez uma longa pausa, suspirou e disse:
- Agora os que estiverem à minha direita e à minha esquerda, peço-lhes por favor que se retirem, porque esta não é uma festa de casamento. É uma festa de batizado.


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- Quando erramos seu salário no mês passado adicionando 500 reais, não me lembro de tê-lo visto vir aqui reclamar. Mas este mês em que reparamos o erro e descontamos 500 reais do seu salário, você vem reclamar?
- É que um erro eu ainda tolero e deixo passar, mas dois já é demais!

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A mulher chega em casa e encontra o marido em posição de ataque com um mata-moscas na mão.
- Já matou alguma? – pergunta ela
- Já – responde ele. - Dois machos e uma fêmea.
- Mas dá para saber só de olhar?
- Bem – diz o marido –, dois estavam pousados numa lata de cerveja e a outra, no telefone.

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O caipira vai visitar o compadre. Como a porta está aberta, ele vai entrando e encontra o compadre na sala de estar, sentado na poltrona assistindo à televisão.
-E aí, cumpadi, firme?
- Não, futebor.

quarta-feira, 30 de abril de 2008

QUARTA POÉTICA - FRANCISCA JÚLIA

Francisca Júlia
Anfitrite
Louco, às doudas, roncando, em látegos, ufano,
O vento o seu furor colérico passeia...
Enruga e torce o manto à prateada areia
Da praia, zune no ar, encarapela o oceano.

A seus uivos, o mar chora o seu pranto insano,
Grita, ulula, revolto, e o largo dorso arqueia;
Perdida ao longe, como um pássaro que anseia,
Alva e esguia, uma nau avança a todo o pano.

Sossega o vento; cala o oceano a sua mágoa;
Surge, esplêndida, e vem, envolta em áurea bruma,
Anfitrite, e, a sorrir, nadando à tona d'água,

Lá vai... mostrando à luz suas formas redondas,
Sua clara nudez salpicada de espuma,
Deslizando no glauco amículo das ondas.


Paisagem
Dorme sob o silêncio o parque. Com descanso,
Aos haustos, aspirando o finíssimo extrato
Que evapora a verdura e que deleita o olfato,
Pelas alas sem fim da árvores avanço.

Ao fundo do pomar, entre folhas, abstrato
Em cismas, tristemente, um alvíssimo ganso
Escorrega de manso, escorrega de manso
Pelo claro cristal do límpido regato.

Nenhuma ave sequer, sobre a macia alfombra,
Pousa. Tudo deserto. Aos poucos escurece
A campina, a rechã sob a noturna sombra.

E enquanto o ganso vai, abstrato em cismas, pelas
Selvas a dentro entrando, a noite desce, desce...
E espalham-se no céu camandulas de estrelas...

terça-feira, 29 de abril de 2008

Expressões Populares - significado e histórico

CONVERSA MOLE PARA BOI DORMIR


Significado: Assunto sem importância.

Histórico: Esta frase nasceu quando o boi era tão importante que dele só não aproveitava o berro. Tratado quase como pessoa, com ele os pecuaristas conversavam, não, porém, para fazê-lo dormir. Nas touradas, quando o boi ainda é touro, até sua fúria compõe o espetáculo. Na copa de 1950, o Brasil venceu Espanha por 6 a 1 e quase 200 mil pessoas cantaram Touradas em Madri, de Carlos Alberto Ferreira Braga, o Braguinha, que termina com este verso: “Queria que eu tocasse castanholas e pegasse um touro a unha/ caramba, caracoles/ não me amoles/ pro Brasil eu vou fugir/ isso é conversa mole/ para boi dormir”.


DEU DE MÃO BEIJADA

Significado: Entrega espontânea

Histórico: Esta frase nasceu do rito empregado nas doações ao rei ou ao papa. Em cerimônia de beija-mão, os fiéis mais abastados faziam suas ofertas, que podiam ser terra, prédios e outras dádivas generosas. O papa Paulo IV (1476-1559), em documento de 1555, aludiu a esses meios regulares de provento sem ônus, dividindo-os em oblações ao pé do altar e de mão beijada. Desde então a frase tem sido aplicada para simbolizar favorecimentos.


FALAR PELOS COTOVELOS

Significado: Falar demais.

Histórico: Tem origem nos gostos de faladores contumazes, que procuram tocar os interlocutores com os cotovelos em busca de maior atenção. O primeiro a registrar a expressão foi o escritor latino Horácio (65- 8 a .C.), numa de suas sátiras. O folclorista brasileiro Luís de Câmara Cascudo (1898-1986) referiu-se ao costume das esposas no sertão nordestino de cutucar os maridos à noite, no leito conjugal, buscando reconciliação depois de alguma briga diurna. Entre os estadistas, quem mais fala pelos cotovelos é o presidente de cuba, Fidel Castro.


INÊS É MORTA

Significado: Não adianta mais.


Histórico: Personagem histórica e literária, celebrada em Os lusíadas, de Luís de Camões (1524-1580), Inês de Castro (1320-1355) teve um caso com o príncipe Dom Pedro (1320-1367), com quem teve três filhos. Por reprovar o romance, a casa real condenou a dama castelhana que vivia na corte portuguesa à morte por decapitação. Ela literalmente perdeu a cabeça por um homem. Quando já era o oitavo rei de Portugal, Dom Pedro deu-lhe o título de rainha. Mas àquela altura logicamente isso de nada adiantava: Inês já estava morta. A frase passou a significar a inutilidade de certas ações tardias. É o título de romance do mineiro Roberto Drummond.

domingo, 27 de abril de 2008

TIRA-TEIMA

Quais foram os clubes de futebol que mudaram de nome por causa da Segunda Guerra Mundial?

O caso mais conhecido é o do Palmeiras que, até 1942, se chamava Palestra Itália e teve de ser rebatizado antes mesmo de o Brasil lutar contra os italianos na Segunda Guerra Mundial. O mesmo aconteceu com o Palestra de Belo Horizonte, atual Cruzeiro. Mas houve também os casos do Jabaquara de Santos (ex-Espanha, país simpatizante do fascismo), e do Esporte Clube Pinheiros, de São Paulo (que disputava o Campeonato Paulista com o nome de Germânia).


Qual era a nacionalidade do goleiro do Peru, na partida que a Argentina venceu por 6 x 0, eliminando o Brasil da Final da Copa de 1978?

Coincidência ou não, o goleiro Ramón Quiroga era argentino de Rosário, onde nasceu em 23 de julho de 1950. Naturalizado peruano, tomou os seis gols naquela partida. Jogou, ainda, a Copa de 1982, na Espanha.


Qual jogador brasileiro marcou um gol sem chuteira na história das Copas?

Leônidas da Silva, o mesmo que inventou a bicicleta, considerado uma espécie de Pelé dos anos 30. O jogo era eliminatório, contra a Polônia, em 1938. A chuteira direita do atacante estourou e, enquanto ela era consertada fora de campo, Leônidas continuou jogando. Pegou o rebote de uma falta cobrada pelo ponta-esquerda Hércules e marcou um dos seus quatro gols na partida, vencida pelo Brasil por 6 x 5. Como chovia muito, o barro encobriu o pé do atacante, e o árbitro sueco Eckling (que havia apitado a Final de 1934) validou o gol, embora a regra proibisse jogar sem o uniforme completo desde aquela época.


Quantas vezes Pelé ganhou a Bola de Prata da Revista Placar?

Nenhuma. Desde a instituição do troféu, em 1970, Pelé foi considerado hors-concours. Não tinha mais nada a provar e, por isso, não recebia notas. Mesmo assim, recebeu uma Bola simbólica, naquele mesmo ano.


Quantas vezes Ademir da Guia jogou em partidas de Copa do Mundo?

Por incrível que pareça, uma única vez. Ou melhor, meia: ele entrou em campo contra a Polônia, na decisão do terceiro lugar da Copa de 1974, na Alemanha. Mas acabou substituído no intervalo pelo centroavante Mirandinha. O Brasil perdeu por 1 x 0 (gol de Lato) e ficou em quarto lugar.


Qual a maior goleada ocorrida no clássico Bahia x Vitória?

A favor do Bahia: 10 x 1 (8 de dezembro de 1939). A favor do Vitória: 7 x 1 (8 de julho de 1948).

sexta-feira, 25 de abril de 2008

O que as mulheres vêem nele?



O Estado de São Paulo - 19/06/2004
Beth Néspoli

São Paulo – “Não se afobe não, que nada é para já / O amor não tem pressa, ele pode esperar” - canta Chico nos versos da canção “Futuros Amantes”. “Claro, Chico, eu espero, o tempo que você quiser”, suspira a ouvinte. Essa cena, fictícia, representa um desejo feminino bastante comum, e não restrito a adolescentes, quando se trata de Chico Buarque. Já se tornou folclórica a sedução que Chico exerce sobre as mulheres. Mas agora falando sério, por que ele é tão atraente? A julgar pelas entrevistas colhidas pela reportagem, um dos aspectos fundamentais - para além da evidente beleza de sua poética e de seus olhos - é a sua discrição, a forma elegante como preserva sua vida privada, qualidade atualmente rara entre famosos, cada vez mais falastrões, exibicionistas, prepotentes e tolos.

“É uma qualidade fantástica a forma como ele se preserva”, diz a jovem atriz e produtora Fernanda D’Umbra. “Os homens ficaram muito pavões de uns tempos para cá. O Chico nunca caiu nessa. Apesar de ser uma figura pública, ele fica na dele, joga futebol com os amigos, leva a mesma vida de sempre. Jamais foi seduzido por esse glamour cafonérrimo de programas de televisão ou revistas de celebridades. Isso é muito atraente.”

A experiente atriz e diretora Denise Weinberg concorda. “Ele nunca está envolvido em fofocas, sabe preservar sua dignidade. Aquele jeitinho contido cativa as mulheres, sobretudo as fortes, é uma atração fatal”, brinca. “Atrai nele a discrição. Foi admirável a forma elegante como lidou com a separação. E ele vem conseguindo manter a mesma atitude ética e digna em todas as fases da vida. Ao contrário de outros artistas que eu admirava, ele está envelhecendo muito bem”, observa a tradutora e ensaísta Fatima Saadi.

Se a discrição é a qualidade mais apontada no homem Chico, a obra é admirada sob muitos ângulos. Porém, o que mais seduz as mulheres é a forma como ele as retrata em suas músicas. “Nenhum outro compositor compreende a alma feminina como ele. Ele tem uma capacidade ímpar de traduzir poeticamente as coisas mais cotidianas do amor”, diz Walderez de Barrros. Para reforçar seu argumento, ela lembra os versos de uma canção sobre separação, “Eu te Amo”: “como (partir) se na desordem do armário embutido / meu paletó enlaça o teu vestido / e teu sapato ainda pisa no meu” ou “teus seios ainda estão nas minhas mãos”. “É lindo isso! São essas pequenas coisas que doem mais fundo nesse momento.” Bem semelhante é o pensamento da atriz Denise Weinberg. “Ele lida com o prosaico de forma tão poética que o transcende. Por exemplo: ‘todo dia ela faz tudo sempre igual’. É simples demais, porém a gente ouve isso e chora.” Ambas, Walderez e Denise, ressaltam o misto de simplicidade e sofisticação como uma das mais sedutoras virtudes de Chico. “Não é fácil ser simples. A cada vez que um diretor diz ‘é simples’ eu fico arrepiada, pois isso é muito difícil”, diz Walderez. “Chico fala do caos urbano, de crianças de rua, de traição, de amor, com harmonias e arranjos sofisticados, que emocionam, porém são cantáveis e podem ser tamborilados na mesa do bar. Atingir o simples, requer muita humildade. E isso cativa”, completa Denise.

Fernanda D’Umbra não fica atrás em sua admiração ao compositor. “Chico escreve muito bem e isso é extremamente sedutor. Nenhuma mulher fica imune a seus versos. Ele é um poeta sensível e um profundo conhecedor da língua portuguesa. Chico é a prova cabal de que é possível ser sofisticado e popular a um só tempo.”

Como se não bastasse ética, elegância, sensibilidade e talento - ainda tem aqueles olhos verdes! “Além de tudo ele é fisicamente lindo. Nem precisava, mas é. Não se pode esquecer isso, jamais”, ressalta Fernanda. “Ele foi um jovem lindo; amadureceu e ficou um homem lindo e, se a gente tiver sorte e espero que tenhamos, ele vai viver muito e vai se tornar um velho lindo.”

quinta-feira, 24 de abril de 2008

HUMOR

Um marido está em casa assistindo ao jogo de futebol, quando sua mulher o interrompe:
- Querido, você pode trocar a lâmpada do corredor?
Ele olha para ela e responde:
- Você está vendo a logomarca da Phillips na minha testa? Acho que não!
A mulher pergunta:
- Então você pode consertar a porta da geladeira? Não está fechando.
E ele responde:
- Você está vendo a logomarca da Brastemp na minha testa? Acho que não!
Ele então vai para o bar e, depois de beber por algumas horas, começa a se sentir culpado pela forma como tratara a mulher. Volta para casa e percebe que a lâmpada do corredor foi trocada e que a porta da geladeira está fechando.
- Querida, como tudo foi consertado? – ele pergunta.
- Bem – ela começa –, quando você saiu, um jovem muito simpático se ofereceu para consertar tudo, e eu só teria de escolher entre ir para a cama com ele ou fazer um bolo.
O marido pergunta:
- Que bolo você fez para ele?
Ela responde:
- Você está vendo a logomarca da Quarker na minha testa? Acho que não!


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Um homem, de férias, viajava em seu carro com a família. Sua sogra gritava e gritava, sem parar! O sujeito já estava ficando nervoso e a sogra não parava de gritar, urrar e espernear. Até que ele não agüentou. Parou o carro, abriu a porta, foi até a traseira, abriu a mala do carro e disse para a sogra, que estava lá dentro:
- Tá bom, pode ir lá na frente com os outros!

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Paciente: - Doutor, estou com um terrível problema de memória. Há alguma coisa que eu possa fazer?
Médico: - Pagar a conta adiantado!

terça-feira, 22 de abril de 2008

QUARTA POÉTICA - LINO VITTI




VELEIRO DO AMOR

Coração - débil barco aventureiro –
pelo oceano do amor, toma cautela.
Pode surgir um vendaval traiçoeiro
que te arrebate e te estraçalhe a vela.

Perscruta o rumo. Sobre o mar inteiro
se prepare talvez árdua procela.
Busca horizontes claros, meu veleiro,
onde o sol brilha e o mar não se encapela.

Não te faças ao largo em demasia
que vem a noite horrenda e a treva zás
queira roubar-te a luz que te alumia.

E então sem rumo, sem farol, sem paz
quiçá não possas mais voltar um dia
à imensa praia que deixaste atrás.



FLORINDO CORAÇÕES

Veja o belo jardim como anda florescido
tanta roseira em flor sonhando com perfumes!
Um verdadeiro céu de estelíferos lumes
estilhaçado em chão de vidro derretido.

Em flores transformou-se a montanha de estrumes
dando vida ao odor tristonho e ressequido.
Convidados da noite a um banquete subido
são insetos que vêm e luzem vagalumes.

Veja as rosas que estão clamando por olhares,
por sorrisos de quem bem perto delas passa,
por beijos de manhãs e céus crepusculares.

Deixemos repousar a vista generosa
nesse encanto floral da roseira que é graça
fundindo em coração cada botão de rosa.


SAINDO PELA BOCA DO EDU LOBO .....
E CHEGANDO PELOS OLHOS DO PAUL McCARTNEY!

por Marly Spacachieri

Lá estamos nós cantando as músicas classificadas. Anos bons, letras e melodias boas, clima político terrível. Tento ter cabelos longos porque são lisos, mas, sempre e sempre mais, aparece a tesoura da arte de cortá-los, sob o pagamento dos meus pais e fico eu com uma risca do lado esquerdo e um topete – quase franja – na testa. Pescoço? Descoberto. Liso demais, esse cabelo! A Elis Regina usava um igual e a Rita Pavone, italianinha, também. Então, tudo resolvido. Nada de cabelos longos. Não tem que reclamar, menina!

A escola é técnica e eu e ELA carregamos nossos livros de contabilidade para cima e para baixo. ELA mora perto! Eu moro mais ou menos perto! A música está presente porque ELA estuda piano e eu me apaixono perdidamente por Tchaikovsky em seu Concerto número 1 para piano e orquestra. Correm os anos da década de 60, meio dela, indo para o fim. Festivais da música brasileira.

As letras das músicas recortadas da revista Intervalo. Tem fotos dos artistas. Edu Lobo é um moço alto, magrinho, desengonçado com as mãos, sorridente com dentões brancos, fumando muito e blusa de gola role embaixo de um paletó. Modelo bom moço. Não agrada a “tchurma da jovem guarda” porque a “brasa, mora” é usar cabelos longos, roupas multicoloridas e um andar gingado, descarado, meio vou-mas-não-muito. Canta bem, o rapaz. Toca violão, coisa de gente meio suspeita. E tem olhos grandes. ELA se encanta, se apaixona, verte lágrimas. Ele mora no Rio de Janeiro. ELA recorta as fotos e as guarda dentro dos meus livros de contabilidade. Os pais dELA não querem paixões que não sejam as clássicas. Lá vou eu carregando Edu Lobo encostado no meu futuro seio direito. Todos os dias ele, Edu Lobo, sai de lá e corre como figurinha para as mãos da amada desconhecida, que o beija entre lágrimas.
Assim se canta Ponteio, ainda que com um ciúmes daquela mocinha magricela que ficava ao lado dele! Bonita? Nããããão! Bonitinha. Só. Cigarros escondidos, chicletes e até perfume esfregado nos dentes. Muitas lágrimas. Vontade de morrer diante de tanta dor. Dor de ter sido abandonada sem nunca ter tido. Imaginação do beijo, da boca na boca. Suspiros e eleição do “Soneto” de Camões como o bálsamo para o sofrimento imenso. Filmes românticos e brigadeiro comido na panela entre goles de guaraná. Muita tristeza. Vontade de fugir ou de morrer!

Um socorro! Um Help! Aquele rapaz é algo como sensacional. Tem cara de anjo, triste como só um deles pode ser. Canta macio. Sorriso comedido. Cabelos quase longos. Guitarra, instrumento do demo! Grita por socorro! Nosso canto? Desculpa para aprender o inglês, é mais fácil assim, fica retido na memória, pai! Coisa boa. E os lábios? E a boca? Suspense dELA na descoberta do novo sentimento. Mora mais longe que o do Rio. Inglaterra? England, sir! The table, the cat, the dog, I love you! The Wolf? Go home! ELA? Novos caminhos e mesmos suspiros. Agora? Sonetos embriagantes de Shakespeare. Outros cigarros com brigadeiro. Fotos recortadas para dentro dos meus livros de contabilidade. Será que brigarão? Dois autênticos cavalheiros? Espadas? Luvas de desafio de duelo? HELP! Viro heroína anônima, tiro as fotos do Lobo/Wolf e coloco no meu diário. Ficam lá até quando as encontro durante a faxina anual do armário. O brilho desses olhos, ao vivo, hoje, é o mesmo. O cabelo –menos - ainda liso, teima em cair no rosto. A sua música toma caminhos maravilhosos. Quanto à boca do Paul, sei não! Não acho nenhuma foto dele! ELA? Casou-se, teve filhos e só canta as coisas de Deus. Eu? Tenho cabelos longos e nenhum topete. Não canto nada. Ouço muito, anoto tudo e transcrevo o que posso sobre os lobos.

Expressões Populares - significado e histórico

PODE TIRAR O CAVALO DA CHUVA

Significado: Pode esperar que vai demorar.

Histórico: No interior o meio de transporte mais utilizado é o cavalo. Além de não enguiçar nem parar por falta de combustível, o cavalo tem a vantagem de deixar clara a intenção do visitante na chegada. Se ele amarra o bicho na frente da casa, sinal de permanência breve; se leva para um lugar protegido da chuva e do sol, pode botar água no feijão, o moço vai demorar. Depois o sentido da expressão se ampliou para desistir de um propósito qualquer.


OVELHA NEGRA DA FAMÍLIA

Significado: Filhos que não têm bom comportamento.

Histórico: A história dessa frase nasceu do milenar trabalho de pastoreio. Em todo o rebanho há um animal de trato difícil, que não acompanha os outros. Cuidando das ovelhas, protegendo-as dos lobos, providenciando-lhes os melhores pastos, o pastor não evita, porém, que uma delas se desgarre. É a “ovelha negra”. Por metáfora, a frase passou a ser aplicada nas famílias e em outras comunidades, a filhos ou a afiliados que não têm bom comportamento. Na “Ilíada”, de Homero (século IX a. C.) relata o sacrifício de uma ovelha negra como garantia do pacto celebrado entre Páris e Menelau, que resultou na guerra de Tróia. Mas ela não foi punida por mau comportamento. Como muitas ovelhas negras, era inocente.


BATEU AS BOTAS

Significado: Morreu.

Histórico: Esta frase é uma variante das tradicionais “Esticou as canelas”, “Abotoou o paletó”, “Partiu desta para melhor”. O curioso, porém, é que se aplica apenas ao morto adulto, do sexo masculino, que tenha o costume de andar de botas ou ao menos calçado. O sapato tem sido símbolo de qualificação social ao longo de nossa história, tendo partilhado seu prestígio com certa marcas de tênis, em busca dos quais adolescentes delinqüentes chegam a matar. Provavelmente bate as botas ao morrer alguém de certas posses, ao menos remediado. Outros morto apenas esticam as canelas ou parte desta para melhor. No segundo caso, partem com estilo, fazendo dupla elipse, já que está subentendido que partiram desta para outra vida, que os comentadores antevêem mais favorável a quem partiu. Dependendo da herança, sua partida é mais favorável para quem ficou. As origens da frase residem no bom trato despedindo aos mortos, posto arrumadinhos nos caixões, com o paletó abotoado. Como, porém, as mulheres passaram a usar roupas semelhantes às dos homens, também elas podem abotoar o paletó à triste hora da partida. A pergunta, entretanto, permanece: triste para quem? Sábios, os latinos cunharam outra frase: “Requiescat in pacem” (descanse em paz). E há um emblema para as cerimônias da morte, o Requiem (Descanso). Um dos mais célebres é o de Mozart.

domingo, 20 de abril de 2008

TIRA-TEIMA

Onde seriam realizadas as Copas do Mundo de 1942 e 1946, que foram canceladas por causa da Segunda Guerra Mundial?

Em 1942, a Copa seria no Brasil (onde foi, por fim, realizada em 1950). Para 1946, eram candidatas a Alemanha – que só realizaria esse desejo, pela primeira vez, em 1974 – e a Hungria, aguardando sua vez até hoje.

Se o italiano Baggio não tivesse perdido seu pênalti na decisão da Copa de 1994, contra o Brasil, quem seria o brasileiro escalado para a quinta cobrança?

Bebeto cobraria o último pênalti brasileiro, mas não houve necessidade da cobrança. A Itália começou chutando – fora – com Baresi. Pagliuca defendeu o pênalti de Márcio Santos. Albertini fez Itália 1 x 0, Romário empatou em 1 x 1. Evani fez Itália 2 x 1, Branco empatou de novo. Aí Taffarel defendeu o pênalti de Massaro, Dunga marcou 3 x 2 para o Brasil e Baggio mandou para fora o último pênalti da Itália.

Quando e por que surgiram os cartões amarelo e vermelho?

Os cartões surgiram para facilitar a comunicação entre jogadores e juízes que falam línguas diferentes, em jogos internacionais. Tudo começou porque no jogo Inglaterra 1 x Argentina 0, pelas Quartas-de-Final na Copa do Mundo da Inglaterra, em 1966, o volante argentino Rattín gesticulava, tentando se fazer entender pelo árbitro alemão W. Kreitlein. Acabou expulso, pois o juiz, que não falava espanhol, pensou que estava sendo insultado. O episódio fez com que a Fifa pensasse uma maneira de jogadores e juízes que falavam línguas diferentes se entenderem melhor, principalmente quanto ao aspecto disciplinar. Por isso, a partir do Mundial seguinte, no México, em 1970, surgiram os cartões amarelo (advertência) e vermelho (expulsão). A partir daquela competição, a fórmula foi adotada em todos os jogos.

Quantos gols Bobô, o craque do Bahia, marcou na campanha do título brasileiro de 1988, de um total de 33 gols assinalados pelo Tricolor?

Para vencer o Campeonato Brasileiro de 1988, o Bahia jogou 29 vezes. Venceu 13, empatou 11 e perdeu apenas 5. Marcou 33 gols e sofreu 23. Ao contrário da impressão que ficou, em termos numéricos Bobô não foi tão decisivo assim. Fez apenas 6 gols (o artilheiro do time foi Zé Carlos, com 9, e o do campeonato, Nílson, do Internacional, com 15). Mas o meia estava presente na hora em que o time mais precisava. Como nas Semifinais contra o Fluminense (Bahia 2 x 1 em Salvador, com um gol dele) e na primeira partida da Final contra o Internacional de Porto Alegre (Bahia 2 x 1, dois gols dele). O título foi ganho com um empate de 0 x 0 em Porto Alegre, já em fevereiro de 1989.

quarta-feira, 16 de abril de 2008

HUMOR

Quatro amigos se encontram em uma festa, após 30 anos sem se verem. Alguns drinks aqui, bate-papo de lá e de cá e um deles resolve ir ao banheiro. Os que ficaram começam a falar sobre os filhos. O primeiro diz:
- Meu filho é meu orgulho. Ele começou a trabalhar como office-boy em uma empresa, estudou, formou-se em administração, foi promovido a gerente da Empresa e hoje é o presidente. Ele ficou tão rico, tão rico, que no aniversário de um amigo, ele deu uma Mercedes novinha para ele.
O segundo disse:
- Nossa, que beleza! Mas o meu filho também é um grande orgulho para mim. Ele começou trabalhando como entregador de passagens, estudou, e formou-se piloto. Foi trabalhar em uma grande Empresa Aérea. Resolveu entrar de sociedade na Empresa, e hoje ele é o dono. Ele ficou tão rico, que no aniversário de seu melhor amigo, ele deu um avião 737 de presente.
O terceiro falou:
- Nossa, parabéns!! Mas o meu filho também ficou muito rico. Ele estudou, formou-se em engenharia, abriu uma construtora e deu tão certo que ele ficou milionário. Ele também deu um super presente para um amigo que fez aniversário. Ele construiu uma casa de 500m² para ele.
O amigo que havia ido até o banheiro chegou e perguntou:
- Qual é o assunto?
- Estamos falando do grande orgulho que temos dos nossos filhos. E o seu? Que ele faz?
- Meu filho é Garoto de Programa, ganha a vida fazendo programas.
E os amigos disseram:
- Nossa, que decepção para você!!!
E ele respondeu:
- Que nada, ele é meu orgulho, é um grande sortudo. Sabe que ele fez aniversário outro dia e ganhou uma casa com 500m², um avião 737 e uma Mercedes zerinho de presente de três viados que ele anda comendo!!!

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A mulher dá uma laranja ao menino. A mãe, ao ver que o filho aceita a laranja e se mantém calado, pergunta?
- O que é que se diz?
O menino se aproxima da mulher, estende o braço e diz:- Descasca!

domingo, 13 de abril de 2008

Expressões Populares - significado e histórico

CONHECER NO SENTIDO BÍBLICO

Significado: Ter feito sexo com alguém.

Histórico: A maior parte do Velho Testamento foi escrita em hebreu, em que a palavra “conhecer” (yo-day-ah) é usada em diversas situações diferentes, podendo significar “conhecer intimamente, de maneira próxima”. Em uma das passagens bíblicas, por exemplo, Deus diz que “conhece Moisés pelo nome”, o que quer dizer que ele o conhece bem, que há um relacionamento entre os dois. Em outros casos, conhecer intimamente pode significar manter relações sexuais com uma pessoa e daí é que vem a expressão.


CUSPIDO E ESCARRADO

Significado: Uma pessoa é muito parecida com outra.

Histórico: Mais uma digressão brasileira. A origem do ditado vem da expressão “Esculpido em carrara”. A frase é uma alusão à perfeição das esculturas de Michelangelo, pois carrara é um mármore da Itália e foi bastante usado por ele. Algum tempo atrás significava fazer bustos de pessoas famosas em carrara, o mais chique dos mármores, ou seja, fazia uma cópia perfeita da fisionomia da pessoa.


BAFO DE ONÇA

Significado: Hálito fétido.

Histórico: A onça é animal carnívoro e se lambuza na hora de comer a caça, por isso fede muito e sua presença é detectada à distância na mata.


A BEÇA

Significado: Muito, em grande quantidade.

Histórico: No Rio imperial, havia um comerciante rico chamado Abessa, que adorava ostentar roupas de luxo. Quando alguém aparecia fazendo o mesmo, dizia-se que ele estava se vestindo à Abessa, ou seja, como o comerciante. Virou sinônimo de abundância, exagero. Outra versão é atribuída à grande profusão de argumentos utilizados pelo jurista sergipano Gumersindo Bessa (1849-1923) ao enfrentar Rui Barbosa em famosa disputa pela independência do território do Acre, que seria incorporado ao Amazonas. Quem primeiro utilizou a expressão foi Rodrigues Alves (1848-1919), presidente do Brasil de 1902 a 1906, admirado da eloqüência de um cidadão ao expor suas idéias: “O senhor tem argumentos à Bessa.” Com o tempo, o sobrenome famoso perdeu a inicial maiúscula e os dois “esses” foram substituídos pela letra c com cedilha (ç).

sábado, 12 de abril de 2008

Livro Quarta-feira, Editora Record - 1998

Mário Prata


Certos enganos
Eric Nepomuceno

Além de um talento imbatível e quase absurdo para o piano, Arthur Moreira Lima tem outro: criar e armazenar frases definitivas. Certo dia de irada melancolia, ele queixou-se num longo telefonema:

- Tem coisas que só acontecem com o Fluminense e comigo!

Bem que poderia ter esclarecido: “Com o Fluminense, comigo e com o Rio de Janeiro.”

O aniversário de Chico Buarque em pleno mês de novembro, e que fechou o trânsito no final do Leblon, é uma dessas histórias da cidade.

Sem que ninguém saiba ao certo como é que tudo começou, o dramaturgo Mário Prata estava numa mesa do Final do Leblon tomando uma cerveja preguiçosa com Chico Buarque. E queixava-se:

- Sou o sujeito mais desafinado da história da humanidade.

Discreto, Chico tentou um consolo:

- Não seja exagerado.

Pratinha insistiu:

- Você fala assim, com esse ar superior, porque não sabe o que eu sofro. Desafino sempre, em qualquer ocasião: no chuveiro, no trânsito, cantando para dentro quando quero lembrar alguma velha canção... Não adianta, desafino o tempo todo. Na escola, era um horror: festa do Dia da Pátria, do Dia do Mestre, do Dia da Proclamação, uma desgraça. Eu abria a boca e sentia que todo mundo começava a rir em volta.

Chico insistiu:

- Ora, todo mundo desafina, tirando, é claro, o João Gilberto e a Gal...

Para Mário Prata, a indiferença do amigo tornou-se insuportável. Fez então a confissão derradeira:

- Chico, eu desafino até em festa de aniversário. A criançada ri, maldosa, minha filha chora de vergonha, meu filho me fulmina com os olhos assim que começo o “Parabéns...”.

Chico achou que aquilo havia passado dos limites, quis verificar. Pediu:

- Isso, eu quero ver. Canta, mas seja honesto: se desafinar de propósito, eu percebo. Mário Prata se concentrou: mãos crispadas, olhos fechados, lançou à meia-voz:

- Parabéns pra você... nessa data querida...

Tomou fôlego numa breve pausa e, sem abrir os olhos, foi adiante:

- Muitas felicidades... muitos anos de vida...

Extasiado, Chico sorriu e admitiu: incrível, ele havia desafinado mesmo!

Mas nem teve tempo para o comentário: num instante explodiram nas mesas vizinhas os gritos de “Viva, viva!”, e mais os aplausos, e imediatamente, sem que pudesse explicar nada, ele foi coberto de abraços, cumprimentos calorosos e um coro repetindo o que Mário Prata destroçara com sua inacreditável desafinação. O dono do bar bradou uma inédita rodada por conta da casa. Quem passava pela calçada somou-se à festa e, no meio da confusão, Mário Prata apoderou-se do telefone e começou a convocar os amigos para o aniversário de Chico Buarque no Final do Leblon. Aproveitou para convocar alguns jornalistas e também as moças que voltavam da praia e espiavam, curiosas.

Alguém ligou para a casa do aniversariante para confirmar o local da festa e acabou convencendo uma atônita Marieta a ir rapidamente até o Final do Leblon levando as crianças e, claro, o indispensável bolo com as velinhas.

Uma hora depois, a festa havia tomado conta da rua Dias Ferreira. Um guarda desviava o trânsito, fotógrafos tratavam de descobrir celebridades, e moçoilas querendo se fazer passar por repórteres tentavam descobrir quantos anos Chico estava fazendo. Houve quem levasse presentes, e um repórter francês gravou declarações exclusivas que transmitiu dali mesmo, pelo telefone do bar, para o seu jornal em Paris.

Pouco depois das nove e meia o aniversariante foi embora ao lado da mulher, das filhas e, claro, de Mário Prata. A festa continuou noite adentro.Ninguém parecia dar a menor importância para o fato de Chico Buarque ter nascido num dia 19 de junho e aquilo tudo estar acontecendo em pleno mês de novembro. Porque no Rio de Janeiro, é assim: não importa o dia em que você nasceu; qualquer dia é dia, qualquer hora é hora para comemorar alguma coisa - até mesmo um aniversário que não aconteceu. (1994)

sexta-feira, 11 de abril de 2008

O Pasquim - 31 de agosto de 1969


Um lugar ao sol

Chico conta a longa luta de um brasileiro em Capri querendo um lugar ao sol.

O vosso correspondente em Roma não se encontra em Roma. Em Roma não há ninguém. Fugiram todos à praia em gozo de sol e férias. Sigo a multidão com minha tenda, meu trapézio e meus leões. Essa é a vida de artista, correr onde está o público para poder fingir que é o público a nos correr atrás. Dia desses baixei em Capri, que segundo o cicerone, ostenta as praias mais lindas do mundo depois do Rio de Janeiro. Comovido, agradeci, dobrei a gorjeta e fui conferir. Realmente o azul do mar, com as rochas brancas e a mata cheirosa, é um espetáculo único. Mas ir à praia, aí é que são elas. Convenci-me de que brasileiro não sabe tomar banho de mar, e olha que tive o maior empenho em aprender.
- Paga-se a entrada!! Pois não. Paga-se o vestiário? Pois não. O mictório também? Não tem problema.
Entrada, vestiário, mictório, guarda-sol, cadeira, bóia, desci à praia cheio de tickets e privilégios. Irrepreensível, pensei. Agora que descobri os macetes é só deitar na areia, comprar um chica-bom e pensar besteira, igual a Copacabana. Mas qual não foi minha surpresa quando cheguei à areia (pedregulhos) e a encontrei literalmente repleta de cabeças, pernas, barrigas e bumbuns. Tentei abrir caminho, pedi um passinho à frente, por favor, disse que ia saltar no próximo ponto, mas os corpos estavam surdo-moles no mormaço. Recuei alguns metros, pisei nas partes duma senhora e subi os degraus de volta. Lá em cima, sobre o cimento, havia um colchão de ar jogado à toa. Deitei e ameacei um cochilo, mas o bilheteiro balneário veio perguntar em inglês se eu era da família americana. À minha primeira pronúncia ficou evidente que eu não era não de tão boa família, diante do que fui convidado a me retirar do colchão esplêndido. Nisso me revoltei bradando que queria um lugar ao sol, queria um lugar ao sol, frase que aprendi nos bastidores da televisão. Na minha terra, insisti, a praia é do povo como o céu é do condor.
- Mas aqui o colchão é dos americanos - disse o bilheteiro friamente.
Eu não ia discutir, ainda mais que os americanos tinham acabado de invadir a lua, uns dias antes. Eu não ia discutir por causa dum colchão de ar. Não discuti mas fiquei com aquilo atravessado na garganta, por isso fui até o bar para engolir melhor. Uma droga dum colchão de ar. Sentei no bar e fiquei vendo os americanos prostrados ao sol. Pareciam cada vez mais bonitos, saudáveis, bronzeados, e eu muito cinzento e verde. Assim passavam-se as horas e nada de vagar um só buraquinho. Pelo contrário, chegavam sempre novos banhistas, desses gordos, sem ossos, gelatinas. Iam falando please e acabavam se encaixando. O aglomerado já formava uma massa tão comprimida que dali a pouco, com mais um aperto, dava a impressão que uns e outros iam estourar para o alto que nem pipoca. E quando alguém se levantava, deixava sempre um chapéu para garantir a vaga. Às cinco e meia resolvi desistir, mas aí abriram um primeiro espaço. Saiu um, saíram dois, saí eu e corri a reservar meus pedregulhos. Sobrou uma cadeira, tomei conta. Apossei-me duma bola, dum colchão, dum guarda-sol, tudo junto. Afinal eu tinha os tickets, estava no meu direito. Só achei estranho aquele êxodo assim precipitado, pois em poucos minutos eu estava sozinho na praia. Engraçado, porque americano não é de abandonar um bom lugar sem mais nem menos. Que diabo, se eles foram embora é porque algo de ruim vem por aí. Pensei em chuva, tempestade, tubarão, mas nada. Só os bilheteiros que estavam recolhendo tudo, o bar que estava fechando, o último ônibus que estava partindo e eu que estava sendo expulso. Expulsão não é bem a palavra, não é exata. Mas ficam aqueles garçons resmungando e olhando para a sua cara. E vem aquele empregado mandando você erguer os pés, os dois ao mesmo tempo, para passar o escovão debaixo. Como boteco de português à meia-noite. Que é isso, perguntei, vai fechar a praia? Pois é claro, disse o empregado, às seis horas nós fechamos tudo. E continuou a esfregar sabão na praia. Não era o caso de contestar a organização lá deles, mas confesso que fiquei perturbado. Ainda mais quando, ao deixar o local, olhei para o mar e vi o que vi. Aliás, não sei se vi mesmo, é difícil acreditar. Vai ver que o sol me batera na cabeça de mau jeito. Ou então fora o gin, sei lá, gin é uma bebida desleal. Não posso jurar nem peço que me creiam, mas o que vi foi o seguinte: o mar esvaziando, esvaziando, os barcos acomodando-se entre as pedras e o Mediterrâneo sendo chupado pelo ralo, dando lugar a magníficas auto-estradas, caminhões, ferrovias, semáforos, supermercados, perdendo-se de vista no horizonte.

quinta-feira, 10 de abril de 2008

HUMOR

O sujeito conhece uma garota na noitada e logo a leva para o motel. Lá ele tira a camisa, deixa o bíceps à mostra e diz:
- Isso são 80 quilos de dinamite!
Mostra o abdome e diz:
- Cem quilos de dinamite!
Depois, tira a bermuda, mostra as coxas e diz:
- Cento e vinte quilos de dinamite!
Enfim, tira o samba-canção e a mulher sai pelo corredor gritando:
- Evacuem o motel! Meu quarto está lotado de dinamite e o pavio é curtinho!


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Ao chegar mais cedo em casa, o marido encontrou a mulher nua na cama, prostrada, respirando ofegante.
- O que houve, querida? Você não está passando bem? – perguntou preocupado.
- Acho que é um ataque do coração – respondeu ela.
Ao ouvir isso, o marido correu feito um louco para o telefone a fim de chamar um médico. Enquanto tentava discar, o filho chegou perto dele e avisou:
- Paiê, tem um homem pelado no banheiro.
O marido foi até lá, abriu a porta e deu de cara com seu melhor amigo. Ficou indignado:
- Pelo amor de Deus, Alfredo! Minha mulher está tendo um enfarte e você fica por aí assustando as crianças!

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Zé viu a mulher de seu melhor amigo entrando em casa com outro e foi correndo avisar:
- Pedro, corre que sua mulher acaba de entrar em casa com outro.
O Pedro corre desesperado e, depois de meia hora, volta e briga com o amigo.
- Zé, quer me matar do coração? Minha mulher não está com outro. Aquele é o mesmo de sempre.

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P: Você sabe qual a diferença entre a lagoa e a padaria?
R: Na lagoa há sapinho, e na padaria, assa pão.

quarta-feira, 9 de abril de 2008

QUARTA POÉTICA - EUCLIDES DA CUNHA


COMPARAÇÃO

"Eu sou fraca e pequena..."
Tu me disseste um dia.
E em teu lábio sorria
Uma dor tão serena,

Que em mim se refletia
Amargamente amena,
A encantadora pena
Que em teus olhos fulgia.

Mas esta mágoa, o tê-la
É um engano profundo.
Faze por esquecê-la:

Dos céus azuis ao fundo
É bem pequena a estrela...
E, no entanto - é um mundo!


A FLOR DO CÁRCERE

Nascera ali - no limo viridente
Dos muros da prisão - como uma esmola
Da natureza a um coração que estiola –
Aquela flor imaculada e olente...

E ele que fôra um bruto, e vil descrente,
Quanta vez, numa prece, ungido, cola
O lábio seco, na úmida corola
Daquela flor alvíssima e silente!...

E - ele - que sofre e para a dor existe –
Quantas vezes no peito o pranto estanca!...
Quantas vezes na veia a febre acalma,

Fitando aquela flor tão pura e triste!...
- Aquela estrela perfumada e branca,
Que cintila na noite de sua alma...

terça-feira, 8 de abril de 2008

segunda-feira, 7 de abril de 2008

Expressões Populares - significado e histórico

SAIR À FRANCESA

Significado: Sair de uma festa ou cerimônia sem se despedir.

Histórico: Pode ter origem em costume francês ou na expressão “saída franca”, indicando mercadorias sem impostos, que não precisam ser conferidas. Como os franceses primam justamente pela etiqueta, não concordaram com a frase e a mudaram para “sair à inglesa”. Alguns pesquisadores situam o surgimento da expressão na época das invasões napoleônicas na Península Ibérica (1810-1812), mas o escritor português Nicolau Tolentino de Almeida (1740-1811), cuja poesia satírica visava aos usos e costumes de Lisboa, registrou-a muito antes nestes versos: “Sairemos de improviso/ despedidos à francesa”.

FICAR A VER NAVIOS

Significado: Ficar sem nada.

Histórico: Dom Sebastião, rei de Portugal, havia morrido na batalha de Alcácer-Quibir, mas seu corpo nunca foi encontrado. Por esse motivo, o povo português se recusava a acreditar na morte do monarca. Era comum as pessoas visitarem o Alto de Santa Catarina, em Lisboa, para esperar pelo rei. Como ele não voltou, o povo ficava a ver navios.

PÔR EM PRATOS LIMPOS

Significado: Metáfora na resolução de conflitos.

Histórico: O primeiro restaurante foi aberto na França em 1765. Estabeleceu-se desde o início que a conta seria paga após a pessoa comer, ao contrário do que depois veio a acontecer com os lanches rápidos. Quando o dono ou o garçom vinha cobrar a conta e o cliente ainda não havia feito a sua refeição, os pratos limpos eram a prova que ele nada devia.

DEIXAR AS BARBAS DE MOLHO

Significado: Ficar de sobreaviso, acautelar-se, prevenir-se.

Histórico: Na Antigüidade e na Idade Média a barba significava honra e poder. Ter a barba cortada por alguém representava uma grande humilhação. Essa idéia chegou aos dias de hoje. Um provérbio espanhol diz que “quando você vir as barbas de seu vizinho pegar fogo, ponha as suas de molho”. Todos devemos aprender com as experiências dos outros.

CHORAR AS PITANGAS

Significado: Chorar muito.
Histórico: O nome pitanga vem de pyrang, que, em tupi, significa vermelho. Portanto, a expressão se refere a alguém que chorou muito, até o olho ficar vermelho.

quinta-feira, 3 de abril de 2008

Vereadores avaliam agressão da Guarda Municipal contra estudantes
Publicado por André Molina
02-Abr-2008 17:18

vereadores.jpg

A Comissão de Segurança da Câmara Municipal de Curitiba realizou reunião nesta quarta-feira, 02 de abril, para ouvir o depoimento de estudantes que foram agredidos pela Guarda Municipal em manifestação pelo passe livre no centro da capital paranaense. Segundo os manifestantes, a guarda utilizou armas para conter o protesto, que acontecia na Praça Santos Andrade às 10h00.

O conflito entre os estudantes e a guarda ocorreu depois que cerca de 50 manifestantes invadiram um tubo na Estação Central. Segundo alguns estudantes, os guardas entraram no tubo e utilizaram cacetetes para conter a invasão. Os manifestantes afirmam que 50 policiais participaram da ação.O presidente da comissão de segurança, vereador Pedro Paulo (PT), afirmou que vai ouvir todas as partes para avaliar “até que ponto a Guarda Municipal está preparada para enfrentar uma manifestação estudantil”.

O vereador André Passos (PT) disse que as autoridades não podem criminalizar o movimento. “É fundamental que as entidades estudantis se organizem. A manifestação aconteceu com aviso prévio. Deve haver uma relação cordial entre a guarda e o cidadão”, afirmou. Já o vereador Tico Kuzma (PSB) não aprovou a invasão dos estudantes na estação tubo. “O vandalismo não pode acontecer, mas a guarda deve se preparar para não tomar uma atitude equivocada como esta. A manifestação deve ser permitida e organizada”, disse.Após a audiência, o vereador Pedro Paulo decidiu marcar um encontro com o secretário de Defesa Social, coronel Itamar dos Santos, para ouvir a justificativa da ação.

pulso.jpg

Estudantes foram agredidos com armas

Os estudantes declaram que foram utilizados instrumentos como spray de pimenta, armas de choque e cacetetes no ato de agressão. O líder da UPES (União Paranaense dos Estudantes Secundaristas), Rafael Clabonde, permaneceu preso durante duas horas no 1° Distrito Policial e, segundo ele, foi agredido. “Eles bateram em todo mundo. Sofremos uma ação covarde. Os policiais apontaram armas de fogo. Fomos algemados e presos em celas. As algemas chegaram a machucar”, disse.

Além de Clabonde, a guarda prendeu também o menor A.L.A, de 17 anos, que é estudante do colégio Loureiro Fernandes. “Ele reclamou de pancadas na barriga”, disse.A estudante identificada como Mara Ana disse que “ficou aterrorizada com uma cena que presenciou”. Ela viu um estudante ser espancado e receber jatos de spray de pimenta no momento em que socorria outro estudante que caiu no chão. Segundo ela, a violência foi tanta que um manifestante foi internado no Hospital Evangélico.

Fonte: http://jornale.com.br/index.php?option=com_content&task=view&id=9058&Itemid=56

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Eu estava nessa manifestação, ela foi pacífica do começo até o fim. Quando nós fomos ocupar a estação tubo central de Curitiba, fomos totalmente reprimidos pela Guarda Municipal. Eu recebi jatos de spray de pimenta no rosto, e chutes no pé, e quase fui presa por desacato. Isso foi uma grande palhaçada, será que estamos voltando ao tempo da ditadura?
Fica aqui o meu manifesto, todos os estudantes estão indignados com tudo o que aconteceu, nós apanhamos muito, nenhum estudante bateu nos guardas, ou praticaram atos de vandalismo. E se o nosso prefeito Beto Richa acha que nós vamos nos intimidar com isso, ele está muito enganado.

terça-feira, 1 de abril de 2008

QUARTA POÉTICA - RAIMUNDO CORREIA


As Pombas...

Vai-se a primeira pomba despertada...
Vai-se outra mais... mais outra... enfim dezenas
De pombas vão-se dos pombais, apenas
Raia sanguínea e fresca a madrugada...

E à tarde, quando a rígida nortada
Sopra, aos pombais de novo elas, serenas,
Ruflando as asas, sacudindo as penas,
Voltam todas em bando e em revoada...

Também dos corações onde abotoam,
Os sonhos, um por um, céleres voam,
Como voam as pombas dos pombais;

No azul da adolescência as asas soltam,
Fogem... Mas aos pombais as pombas voltam,
E eles aos corações não voltam mais...



Saudade

Aqui outrora retumbaram hinos;
Muito coche real nestas calçadas
E nestas praças, hoje abandonadas,
Rodou por entre os ouropéis mais finos...

Arcos de flores, fachos purpurinos,
Trons festivais, bandeiras desfraldadas,
Girândolas, clarins, atropeladas
Legiões de povo, bimbalhar de sinos...

Tudo passou! Mas dessas arcarias
Negras, e desses torreões medonhos,
Alguém se assenta sobre as lájeas frias;

E em torno os olhos úmidos, tristonhos,
Espraia, e chora, como Jeremias,
Sobre a Jerusalém de tantos sonhos!...

Os melhores cartoons do mundo - 02


segunda-feira, 31 de março de 2008

Expressões Populares - significado e histórico

MEMÓRIA DE ELEFANTE

Significado: Diz-se que as pessoas que se recordam de tudo tem memória de elefante.

Histórico: O elefante lembra de tudo aquilo que aprende, por isso é uma das principais atrações do circo.


OLHOS DE LINCE

Significado: Enxergar longe.

Histórico: Esses bichos têm a visão apuradíssima. Os antigos acreditavam que o lince podia ver através das parede.


CUSTAR OS OLHOS DA CARA

Significado: Serve para designar preços exagerados em qualquer relação comercial.

Histórico: Um costume bárbaro de tempos muito antigos deu início ao uso dessa expressão. Consistia em arrancar os olhos de governantes depostos, de prisioneiros de guerra e de pessoas que, por serem influentes, ameaçavam a estabilidade dos novos ocupantes do poder. Pagar alguma coisa com a perda da visão tornou-se sinônimo de custo excessivo, que ninguém poderia pagar. Um dos primeiros a registrar o dito foi o escritor romano Plauto (254- 184 a .C.), numa das 130 peças de teatro que escreveu.


É DO TEMPO DO ONÇA

Significado: É utilizada para aludir a um tempo muito antigo e que mantinha certos preceitos não mais utilizados na própria época.

Histórico: Essa frase é da época do capitão Luís Vahia Monteiro, governador do Rio de Janeiro de 1725 a 1732. Seu apelido era Onça. Numa carta que escreveu ao rei Dom João VI, Onça declarou que “Nesta terra todos roubam, só eu não roubo”. Houve uma época em que o governador foi apelidado de virgem no bordel.


TIRAR O PAI DA FORCA

Significado: Ter pressa.

Histórico: Essa frase é atribuída ao fato de Santo Antônio, estando em Pádua, ter que ir apressadamente até Lisboa para livrar seu pai da forca, lenda muito conhecida que nos legou essa frase que tem tanta atualidade neste século onde quase todo mundo corre “como quem vai tirar o pai da forca”.


Fonte: http://www.suigeneris.pro.br/, temporariamente fora do ar.

domingo, 30 de março de 2008

TIRA-TEIMA

Alguma vez o Atlético Mineiro já ganhou da Seleção Brasileira?

Aconteceu no Mineirão, no dia 3 de setembro de 1969. O Brasil, ainda treinado por João Saldanha, entrou em campo com a base do time que, no ano seguinte, seria tricampeão mundial no México: Félix, Carlos Alberto, Djalma Dias, Joel Camargo e Rildo (Everaldo); Piazza e Gérson (Rivelino); Jairzinho, Tostão (Zé Carlos), Pelé e Edu (Paulo César). O Galo jogou com Mussula, Humberto Monteiro, Grapete, Normandes (Zé Horta) e Cincunegui (Vantuir); Oldair e Amauri (Beto); Vaguinho, Dario, Laci e Tião (Caldeira). O Atlético venceu por 2 x 1, gols de Amauri, aos 41 minutos do primeiro tempo, e de Dario, o Dadá Maravilha, aos 20 do 2º. Pelé foi o autor do gol da Seleção, aos 4 do segundo. Essa foi a única derrota brasileira em todo o período de preparação para a Copa do Mundo de 1970.

Mesmo antes da conquista do Campeonato Mundial Interclubes, em 1983, já existia uma estrela dourada no alto da bandeira do Grêmio, acima do escudo. O que ela simboliza?

Ela homenageia o lateral-esquerdo Everaldo, único jogador gaúcho campeão mundial pela Seleção Brasileira no México, em 1970. Ex-juvenil do Grêmio, Everaldo Marques da Silva estreou entre os profissionais em 1966. Em 1972, ficou suspenso um ano, por agressão ao árbitro José Faville Neto. Só retornaria aos gramados em 1973. No ano seguinte, percorrendo o interior gaúcho em sua campanha para deputado estadual, Everaldo morreu depois que seu Dodge Dart encontrou uma carreta a 160 quilômetros por hora.

Quando e contra que adversário foi o jogo em que o Bahia precisava vencer por uma diferença de cinco gols e venceu?

O dia do milagre foi 4 de abril de 1981. Bahia e Santa Cruz jogariam na Fonte Nova, pela última rodada da Segunda Fase do Campeonato Brasileiro. Os dois clubes brigavam pela segunda vaga de um grupo que tinha, ainda, Ponte Preta (já classificada) e Corinthians (eliminado). O Tricolor baiano só passaria com uma condição: vencer por uma diferença mínima de 5 gols, fechando a campanha empatado com o próprio Santa e superando-o no saldo. A incrível chuva de gols aconteceu, aos 4, 13 e 43 minutos do primeiro tempo e aos 22 e 40 minutos do segundo.

Quem foi o mais jovem campeão mundial pela Seleção Brasileira em todos os tempos: Pelé, em 1958, ou Ronaldinho, em 1994?

Pelé nasceu no dia 23 de outubro de 1940. Quando ganhou a Copa do Mundo de 1958, na Suécia (no dia 29 de junho de 1958), tinha 17 anos, oito meses e seis dias. Ronaldinho era um pouco mais velho. Nasceu em 22 de setembro de 1976 e, quando foi tetra nos Estados Unidos, em 17 de julho de 1994, tinha exatos 17 anos, nove meses e 25 dias.

sábado, 29 de março de 2008

Um escritor brilhante e inovador


Ubiratan Brasil
O Estado de São Paulo - 19/06/2004

Em uma entrevista a um jornal argentino em 1999, Chico Buarque de Holanda confessou que se achava mais inovador em sua literatura que nas letras de suas canções. E, se assim acreditava, era para reforçar também a influência literária que sempre marcou suas histórias em livros. Foi assim, por exemplo, com a história infantil “Chapeuzinho Amarelo” (1979), surgida a partir das fábulas que contava para a filha Luisa. Ou ainda em “Fazenda Modelo” (1974), que imediatamente remete a “Revolução dos Bichos”, de George Orwell, mote escolhido para revelar e criticar a difícil situação vivida então pela sociedade brasileira, tolhida por uma ditadura militar.

O grande passo de Chico Buarque, porém, foi dado com “Estorvo”, publicado em 1991, em que o próprio autor considera a virada para a maturidade literária. Trata-se de uma nova fase de sua escrita, em que ele busca alternativas para expressar seu pensamento. Conta, basicamente, a trajetória de um homem que não se sente bem em nenhum ambiente onde está.

“Estorvo é um livro brilhante, escrito com engenho e mão leve”, observou o ensaísta e professor Roberto Schwarz, autor do artigo “Um Romance de Chico Buarque”, que figura no livro de ensaios “Seqüências Brasileiras” (Companhia das Letras). “Em poucas linhas, o leitor sabe que está diante da lógica de uma forma.”

Segundo Schwarz, o grande achado do autor é construir uma narrativa que corre no ritmo acelerado (na primeira pessoa e no presente), ao mesmo tempo em que busca ser despretensiosa. “A expressão simples faz parte de situações mais sutis e complexas do que ela”, afirma ele, que considera o livro uma forte metáfora que Chico Buarque escreveu para o Brasil contemporâneo.

O mesmo tema (um homem que não se sente bem em seu meio) foi retomado com “Benjamim” (1995). Novamente, Chico Buarque fez da própria escrita o seu material, criando uma intrincada estrutura da narrativa, em que uma história é contada simultaneamente no presente e no passado.

Trata-se da história de um homem, Benjamim, que descobre em uma bela jovem, Ariela, os mesmos traços de uma mulher que o deixou apaixonado nos anos 1960, a rica Castana Beatriz. As duas épocas se cruzam ao longo da narrativa, criando um quebra-cabeça em que cada nova peça acaba negando o dado anterior - o presente e o passado correm em paralelo.

A linguagem é cinematográfica e o próprio autor, na época do lançamento, reconheceu uma certa influência da nouvelle vague na forma de narrar. Mesmo assim, parte da crítica não se sentiu seduzida pelo jogo proposto por Chico Buarque e considerou “Benjamim” sua obra menor. Fantasma - O habilidoso jogo de palavras voltou no ano passado, com a publicação de “Budapeste”. É a história de um ghost-writer, ou seja, alguém que escreve o que outras pessoas assinam, artigos para jornal, autobiografias e até poesia. Um autor anônimo, porém, brilhante. José Costa é o ghost-writer que, certo dia, é convidado a comparecer, em Melbourne, na Austrália, a um congresso internacional de escritores anônimos. Por conta de problemas no vôo, fica retido em Budapeste. A capital da Hungria o fascina, especialmente a língua. Lá, começa a perder a própria identidade ao imaginar ter perdido o sotaque, transformando-se em Zsoze Kósta. Novamente, Chico Buarque volta a brincar com as palavras e, ao utilizar um personagem que vive da escrita, faz com que “Budapeste” se transforme em seu texto mais autoral.

sexta-feira, 28 de março de 2008

HUMOR

Um milionário dando uma festa em casa anuncia que ofertará qualquer coisa a quem atravessar a piscina nadando. Só há um porém: ela está cheia de tubarões.
Tibum! Lá se vai um homem nadando furiosamente pela piscina. Barbatanas cortam a água, bocas se abrem. Quando parece que ele vai se tornar comida de peixe, o rapaz consegue sair ileso.
- Sou homem de palavra – diz o milionário. - E você é o sujeito mais corajoso que conheço. Então, o que deseja?
Olhando a multidão, o nadador responde:
- Eu quero que o senhor identifique o imbecil que me empurrou!


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Jorge fechou o bar e foi para casa. Já dormia quando o telefone tocou.
- A que horas vocês abrem amanhã? – perguntou um homem visivelmente bêbado.
Enfurecido, Jorge bateu o telefone e voltou a dormir. Mas o sujeito, insistente, telefonou novamente.
- É melhor você parar de ligar – gritou Jorge. - Não tem nem chance de eu deixar um bêbado como você entrar no meu bar, ainda mais a esta hora!
- Eu não quero entrar – respondeu o homem. - Quero sair!

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Um músico indigente estava na esquina tocando violão. Depois de mais ou menos uma hora, um policial se aproximou dele e pediu-lhe que mostrasse a carteira de identidade.
O músico admitiu não ter.
- Certo – disse o policial. - Então você vai ter de me acompanhar.
- Tudo bem – respondeu o músico. - O que você quer cantar?

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Por que muitas pessoas cortam o número 7 ao escrevê-lo? Você sabe? O motivo é este:
Estava toda a multidão aos pés do Monte Sinai para ouvir os 10 mandamentos proclamados por Moisés, que, quando chegou ao 7º mandamento, disse em alto e bom som:
- Não cobiçarás a mulher do próximo!
A multidão enlouquecida gritou:
- Corta o sete! Corta o sete!

terça-feira, 25 de março de 2008

segunda-feira, 24 de março de 2008

Saúde Pública no Brasil


Expressões Populares - significado e histórico

CONTO DO VIGÁRIO

Significado: Sinônimo de falcatrua e malandragem.

Histórico: Duas igrejas de Ouro Preto receberam uma imagem de santa como presente. Para decidir qual das duas ficaria com a escultura, os vigários contariam com a ajuda de Deus, ou melhor, de um burro. O negócio era o seguinte: colocaram o burro entre as duas paróquias e o animalzinho teria que caminhar até uma delas. A escolhida pelo quadrúpede ficaria com a santa. E foi isso que aconteceu, só que, mais tarde, descobriram que um dos vigários havia treinado o burro.

DOURAR A PÍLULA

Significado: Melhorar a aparência de algo.

Histórico: Antigamente as farmácias embrulhavam as pílulas em papel dourado, para melhorar os aspecto do remedinho amargo.

ABRAÇO DE TAMANDUÁ

Significado: Deslealdade, traição

Histórico: Para capturar sua presa, o tamanduá se deita de barriga para cima e abraça seu inimigo. O desafeto é então esmagado pela força.

O CANTO DO CISNE

Significado: Representa as últimas realizações de alguém.

Histórico: Dizia-se que o cisne emitia um belíssimo canto pouco antes de morrer.

ESTÔMAGO DE AVESTRUZ

Significado: Quem come de tudo.

Histórico: O estômago do avestruz é dotado de um suco gástrico capaz de dissolver até metais.

LÁGRIMAS DE CROCODILO

Significado: É uma expressão usada para se referir ao choro fingido.

Histórico: O crocodilo, quando ingere um alimento, faz forte pressão contra o céu da boca, comprimindo as glândulas lacrimais. Assim, ele chora enquanto devora a vítima.

Fonte: http://www.suigeneris.pro.br, temporariamente fora do ar.

sábado, 22 de março de 2008

Chico: teatro e cinema - 1988

Yan Michalski

No dia 17 de dezembro de 1965, sentado no Teatro Maison de France, passei por uma das primeiras emoções inesquecíveis da minha incipiente carreira de critico teatral. Morte e vida severina, de João Cabral de Melo Neto, na montagem do TUCA paulista, trazia um poderoso sopro de renovação para o teatro brasileiro. Sopro de poesia e, ao mesmo tempo, de inconformismo social; de brasilidade e de universalidade; de desespero e de fé. Sopro, também, de uma singular musicalidade, que escapava dos limites das lindas canções e irradiava-se por todos os setores do espetáculo. Ele devia-se à colaboração, que na minha critica adjetivei de “inspiradíssima” e “maravilhosa”, de um estudante de Arquitetura, ainda não Chico Buarque, mas Francisco Buarque de Hollanda, 19 anos de idade. Ninguém no Rio tinha ouvido falar nele; ninguém iria, nunca mais, esquecer seu nome.

Algum tempo depois, ele procurou-me, com toda a sua na época proverbial timidez e um texto debaixo do braço: sua obra de estréia como autor teatral, Roda-viva, sobre a qual ele queria que eu lhe desse uns palpites. Não sei mais o que achei e do que comentei com ele, mas lembro-me do susto que levei quando soube mais tarde que Roda-viva ia ser dirigida por José Celso Martinez Corrêa, então no auge do seu genial delírio tropicalista: a tocante mas ingênua fábula de Chico não me parecia combinar com a fúria iconoclasta de Zé Celso. De fato, o próprio diretor descreveria depois metaforicamente a maneira como se apropriou do texto e o transformou num veículo de contundente agressividade cênica: “Eu sugeri que o cartaz da peça fosse o Chico Buarque num açougue ou os olhos verdes de Chico boiando como dois ovos numa posta de fígado cru, pois foi assim que vi o Chico de Roda-viva.” No resultado mostrado em cena, a violência da encenação sobrepunha-se esmagadoramente à matéria-prima literária, a tal ponto que quase ninguém se lembrou de discutir o texto, enquanto a encenação desencadeou uma inédita onda de polêmicas, coroada por um brutal atentado que o espetáculo sofreu em São Paulo. O autor teatral Chico Buarque, aliás, fez questão de aprovar e apoiar a livre criação diretorial de Zé Celso - nascia abafado por um vendaval de invenção cênica que ofuscava a sua peça. Mas o compositor e letrista Chico Buarque criava para Roda-viva algumas canções antológicas, que permaneceriam até hoje na ponta da língua de milhares de pessoas.

O autor teatral Chico Buarque, agora em parceria com Ruy Guerra, voltaria a ser esmagado na sua tentativa seguinte; só que por uma força diametralmente aposta à delirante liberdade criadora de Zé Celso. Quem esmagou a segunda tentativa dramatúrgica de Chico, Calabar, foi a Censura, proibindo o seu lançamento às vésperas da estréia. Lembro-me de que nós, os jornalistas, fomos até impedidos de sequer mencionar o título da peça em qualquer noticiário. Mas, por um desses surrealistas paradoxos característicos da época, o disco com as músicas foi autorizado a circular, embora sem o título Calabar na capa; e logo as canções adquiriram uma existência independente da peça para a qual foram escritas, e passaram a fazer parte, como tantas outras de Chico, do nosso subconsciente coletivo. Infelizmente, quando alguns anos mais tarde Calabar pôde finalmente ser montado em São Paulo, o momento mais oportuno para a sua apresentação já havia passado, e o seu impacto não foi o mesmo que teria sido se a peça tivesse sido vista dentro do contexto histórico a partir do qual e para o qual fora escrita.

Bem diferente foi a sorte de Gota d’água que, lançada em 1975, integrou, junto com Um grito parado no ar, O último carro e alguns outros espetáculos, um conjunto das primeiras luzinhas no fim do túnel: já se tornava de novo possível colocar no palco, por um prisma crítico, o Brasil no qual estávamos vivendo. Por outro lado, contrariamente a Roda-viva e Calabar, Gota d’água não era um musical, mas um drama poético em versos, com algumas canções. Pela primeira vez poderíamos avaliar as possibilidades de Chico como dramaturgo, sem ficarmos condicionados pela admiração que todos temos pela sua produção como letrista e compositor. O resultado não surpreendeu: o texto foi saudado como uma obra-prima da dramaturgia brasileira, e até hoje nada perdeu da sua densidade. Trabalhando mais uma vez em parceria, agora com Paulo Pontes, ambos baseando-se numa idéia original de Oduvaldo Vianna Filho, Chico confirmava aqui, deslumbrantemente, os seus dons de poeta e a sua sintonia com o lirismo da alma brasileira.

Em A ópera do malandro, Chico, em 1978, dispensa parceiros e assume de novo sozinho a responsabilidade da matéria dramatúrgica e musical. Ou melhor, enfrenta corajosamente o peso de suas parcerias indiretas: a de Brecht, em cuja Ópera dos três vinténs assumidamente se inspirou, e a de John Gay, em cuja Ópera dos mendigos Brecht se inspirara. A Ópera do malandro tem um volume de pesquisa histórica, uma qualidade literária da escrita e uma idéia-base do enredo à altura do melhor Chico; mas a inevitável comparação com a obra-prima de Brecht-Weill resultou-lhe incômoda; e o espetáculo foi algo desservido por uma montagem não muito feliz. Mas, mais uma vez, várias canções escritas para a peça levantaram um vôo autônomo e foram pousar no coração da gente.
Talvez seja esta magistral capacidade que faz de Chico Buarque, sem sombra de dúvida, uma das mais indispensáveis personalidades do Brasil de hoje, uma das poucas que fazem parte diária da nossa intimidade, sem que seja necessário conhecê-las pessoalmente.

sexta-feira, 21 de março de 2008

O Senhor Palha

Extraído de “O Livro das Virtudes”, de William J. Bennett

Era uma vez, há muitos anos, um homem chamado Senhor Palha. Ele não tinha casa, nem mulher, nem filhos. Nem tinha sorte. Mal tinha o que comer. Costumava ir ao templo pedir à Deusa da Fortuna para melhorar sua sorte, e nada acontecia. Até que um dia, ele ouviu uma voz sussurrar: - “A primeira coisa que você tocar quando sair do templo lhe trará grande fortuna”. O Senhor Palha levou um susto. Esfregou os olhos, olhou em volta, mas viu que estava bem acordado. Mesmo assim, saiu pensando: “Eu sonhei ou foi a Deusa da Fortuna que falou comigo?” Na dúvida, correu para fora do templo, a procura da sorte. Na pressa, acabou tropeçando nos degraus e foi rolando aos trambolhões até o final da escada, onde caiu na terra. Ao se pôr de pé, ajeitou as roupas e percebeu que tinha alguma coisa na mão. Era um fiapo de palha.

“Bom”, pensou ele, “um fiapo de palha não vale nada mas, se a Deusa da Fortuna quis que eu pegasse, é melhor guardar”. E lá foi ele, segurando o fiapo de palha. Logo adiante apareceu uma libélula zumbindo em volta da cabeça dele. Tentou espantá-la, mas não adiantou. A libélula zumbia loucamente ao redor da sua cabeça, e ele pensou: “Muito bem, se não quer ir embora, fique comigo”. Apanhou a libélula e amarrou o fiapo de palha no rabinho dela. Ficou parecendo uma pequena pipa, e ele continuou descendo a rua com a libélula no fiapo. Logo encontrou uma florista com o filhinho, a caminho do mercado, onde iam vender flores. Vinham de muito longe. O menino estava cansado, suado, e a poeira lhe trazia lágrimas aos olhos. Mas quando o menino viu a libélula zumbindo amarrada ao fiapo de palha, seu rostinho se animou. - Mãe, me dá uma libélula? – pediu. - Por favor! “Bom”, pensou o Senhor Palha, “a Deusa da Fortuna me disse que o fiapo de palha traria sorte, mas esse garotinho... E deu a libélula no fiapo para o garoto. - É muita bondade sua – disse a florista. - Não tenho nada para lhe dar em troca além de uma rosa. Aceita? O Senhor Palha agradeceu e continuou o seu caminho, levando a rosa. Andou mais um pouco e viu um jovem sentado num toco de árvore, segurando a cabeça entre as mãos. Parecia tão infeliz, e o Senhor Palha lhe perguntou o que havia acontecido. - Vou pedir minha namorada em casamento hoje à noite – disse o rapaz. Não tenho nada para dar a ela. - Bom, também não tenho nada – disse o Senhor Palha. - Não tenho nada de valor, mas se quiser dar a ela esta rosa, é sua. O rosto do rapaz se abriu num sorriso ao ver a esplêndida rosa. - Fique com essas três laranjas, por favor – disse o jovem. - É só o que posso dar em troca. O Senhor Palha seguiu andando, carregando as três laranjas. Logo encontrou um mascate, ofegante. - Estou puxando a carrocinha o dia inteiro e estou com tanta sede que acho que vou desmaiar. Preciso de um gole de água. - Acho que não tem nem um poço por aqui – disse o Senhor Palha. - Mas se quiser pode chupar estas laranjas. O mascate ficou tão grato que pegou um rolo da mais fina seda na carroça e deu-o ao Senhor Palha, dizendo: - O senhor é muito bondoso. Por favor, aceite esta seda em troca. E o Senhor Palha mais uma vez seguiu pela rua, com o rolo de seda debaixo do braço. Mais tarde, viu passar a princesa numa carruagem. Tinha um olhar preocupado, mas logo se alegrou ao ver o Senhor Palha. - Onde arrumou essa seda? – gritou ela. - É justamente o que estou procurando. Hoje é aniversário de meu pai e quero dar um quimomo real para ele. - Tenho prazer em lhe dar essa seda. – disse o Senhor Palha. A princesa mal podia acreditar em tamanha sorte. - O senhor é muito generoso – disse sorrindo. - Por favor, aceite esta jóia em troca. A carruagem se afastou, deixando o Senhor Palha segurando a jóia de inestimável valor refulgindo à luz do sol. “Muito bem”, pensou ele, “comecei com um fiapo de palha que não valia nada e agora tenho uma jóia!” Levou a jóia ao mercado, vendeu-a e, com o dinheiro, fez uma plantação de arroz. Trabalhou muito, arou, semeou, colheu, e a cada ano a plantação produzia mais arroz. Em pouco tempo, o Senhor Palha era um dos maiores produtores de arroz. Mas a riqueza não o modificou. Sempre ofereceu arroz aos que tinham fome e ajudava a todos que o procuravam. Diziam que sua sorte tinha começado com um fiapo de palha, mas acho mesmo que foi com a generosidade.