O futebol é feito de grandes conquistas. Times são lembrandos pelos seus grandes títulos, suas vitórias memoráveis.
Esses grandes clubes arrebanham torcedores diariamente, formando uma massa de milhões de pessoas.
Mas e os pequenos clubes? Aqueles que tem uma torcida pequena, de cidades do interior. Esses são o verdadeiro sustentáculo do futebol, mantendo a chama do esporte com pequenos grandes feitos, como os que relatarei aqui, do Brasil de Pelotas.
O Brasil foi fundado no dia 7 de Setembro de 1911, sendo o primeiro campeão gaúcho, em 1919. De lá pra cá, ganhou alguns títulos de pouca expressão, como a copa Rio Grande do Sul, em 1995. Mas não estou aqui pra falar em conquistas, mas em paixão. E aí, os grandes feitos do Brasil de Pelotas são dignos de um grande clube.
O Brasil tem a maior torcida do interior do Rio Grande do Sul, batendo inclusive o Juventude, clube de expressão nacional. Essa torcida aumentou e aumenta ainda hoje, devido aos pequenos feitos que deram origem a essa crônica, a saber:
Em 1920, a seleção brasileira de futebol convocou o primeiro jogador gaúcho para a seleção brasileira, tratava-se de Alvariza, atacante do Brasil. Alvariza foi artilheiro da seleção brasileira no sul-americano daquele ano, voltando a Pelotas como herói, saudado por uma multidão nas ruas da cidade.
Em 1983, o técnico do Xavante era Luis Felipe Scolari, que foi vice campeão gaúcho com um time modesto, perdendo a final para o Inter. Aqui em Pelotas, e no Brasil, foi onde Felipão conheceu Murtoza, que é seu companheiro até hoje.
Em 1950, o Brasil foi ao Uruguai, fazer um amistoso contra nada mais nada menos que a celeste olímpica. Resultado: Um histórico 2x1 para o Brasil. Dois meses depois, o Uruguai seria campeão do mundo. Nessa partida estava galego, que depois viria a se tornar um dos maiores técnicos do futebol gaúcho.
Depois dessa incrível vitória, o Brasil foi convidado para jogar em diversos países. Optou por excursionar pelas américas. O saldo foi sensacional: 28 jogos, 16 vitórias, 6 empates e 6 derrotas. Venceu times como o Olímpia, campeão nacional daquele ano, que não perdia há 16 anos.
Infelizmente essa grande equipe se desfez por falta de um patrocínio que conseguisse manter os craques na baixada (estádio do Brasil).
No ano de 1997, o Brasil chegou as semifinais do campeonato gaúcho. E tinha um time para ser campeão. O alvoroço estava formado na cidade. A equipe tinha uma torcida apaixonada do seu lado, um bom time e estava organizado. Seriamos campeões.
Mas antes precisavamos bater o poderoso Grêmio de Porto Alegre. Logo de cara, uma ducha de água fria: O Brasil não poderia jogar em seu estádio, teria que jogar em Rio Grande, no estádio Aldo Dapuzzo (capacidade para 12 mil pessoas, contra 25 mil da baixada). Resultado do jogo 1x1. Decisão seria em Porto Alegre. Ninguém se abateu. No dia do jogo mais um feito histórico. Narrador da rádio Guaíba diz que era a primeira vez que o Grêmio estava jogando em casa com torcida contra. Mais de 12 mil rubro negros invadiram o estádio olímpico. Lembro que eu chorava de emoção só de ouvir o grito da torcida.
Mas o jogo começa, luizinho faz o primeiro gol do Brasil e mostra as veias do braço, numa alusão as declarações feitas pelo técnico do Grêmio, Sebastião Lazaroni, que havia dito que os jogadores do Brasil estavam chapados.
O jogo segue, o Grêmio vira pra dois a um. O brasil empata a 5 minutos do fim. Decisão seria por penaltys. Derrota amarga depois de 12 cobranças. Mas o time voltou para a cidade com festa, a avenida lotada para receber os heróis. Conseguimos arrebanhar uns dois mil jovens torcedores naquela noite.
Mas o grande feito do Brasil, com o qual finalizo, foi o terceiro lugar no campeonato brasileiro de 1985, não apenas pelo terceiro lugar, mas pela segunda vitória consecutiva sobre o poderoso Flamengo. No campeonato anterior o Brasil havia vencido por 1x0, no maracanã. Agora era na baixada.
Era uma noite de quarta-feira, o estádio estava lotado, mais de 25 mil pessoas. Um silêncio sepulcral quando da entrada do poderoso Flamengo. E la vinha Mozer, Fillol, Nunes, Leandro, e ele, o poderoso Zico. Depois entra o Xavante, a estupefação com a entrada do Flamengo se vai por água abaixo, agora é só festa.
O campo estava de caída, só dava Flamengo. Até que o futebol resolveu mostrar o motivo dele ser apaixonante. O zagueiro do Brasil da um balão pra frente, na metade do segundo tempo, Mozer e Fillol vão na bola, e o impossível acontece. Os dois se chocam atabalhoadamente e a bola sobra limpa, nos pés de Bira burro, o centrovante matador. Ele nem acredita no que vê, e só tem o trabalho de empurrar a bola pra dentro do gol.
A pressão do Flamengo aumenta, no final do jogo ela já é insuportável. E é nesse momento que Junior Brasília pega a bola na inteermediárea do campo de defesa, avança até o meio do campo e, não tendo com quem jogar, se livra dela com um chute (que ele encabuladamente disse depois ser um cruzamento). Era tudo que a torcida queria, aquela bola tinha que ficar pelo menos mais 5 minutos no ar, e todos dentro do estádio se concentraram nisso. Mas não foi o que aconteceu, o que a bola fez foi sair em disparada em direção ao gol de Fillol, tão rápida que o goleiro não viu quando ela caprichosamente entrou no ângulo. A explosão estava completa. Vitória por 2x0 e festa durante dois dias na cidade.
Tinha 25 mil pessoas no estádio, mas se você perguntar nas ruas quem foi ao jogo, tinha pelo menos 100.000. Tem até gente que nasceu em 1986 que diz que foi ao jogo.
É por isso que o futebol é lindo, o grande feito do meu Brasil foi vencer o Flamengo, e já basta para nós torcedores apaixonados.
Abraços.
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9 comentários:
Parabéns Daniel pela linda crônica. Não conhecia essas histórias do Brasil de Pelotas. Acredite, seu time do coração ganhou mais um admirador
Daniel,
Seja bem-vindo.
Adorei descobrir o seu Brasil hoje. Muito bom.
Obrigado Andréa e Luiz pelas palavras. Com uma recepção assim a gente até se aventura a postar mais.
Valeu!
Daniel!!!! adorei o texto!super bem escrito e apaixonado!!!
beijo!
É isso ai Daniel... Mais uma demostração de amor pelo nosso Xavante.PARABÉNS, muito beme scrito e como é bom reler essas histórias, nos enchem os olhos de lagrimas.
Não vou ficar muito mais feliz sendo campeão do que uma bela tarde de domingo vendo meu Brasil ganhar um jogo qualquer.Ser Xavante já é ser um campeão.
A maior e mais fiel do interior RS!
Grande texto!
parabens.. da-lhe XAVANTE!!!
Olha a xavantada se manifestando, que lindo isso. Dá-lhe Xavante!!!
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