Não sou jornalista. Não tenho nenhuma formação acadêmica ou sequer empírica para falar sobre jornalismo.
Mas sou cidadão, e como tal, estou horrorizado com o que tenho visto em minha cidade nas últimas semanas.
8 dias atrás, o jornal de maior circulação de Pelotas colocou uma reportagem falando sobre o perigo da febre amarela. Na matéria, pouco ou nenhum esclarecimento efetivo sobre a mesma. O tom era de caos. Aliou-se a esse jornal as incursões diárias do jornal nacional, sempre com vinhetas chamativas e âncoras com ar de preocupação. Nenhuma nota sequer falando sobre o ministro da saúde, que foi ao ar para falar que não havia risco de epidemia urbana, visto que o Brasil não tem casos da mesma desde 1942. A febre amarela é silvestre, apenas em zonas de mata.
A população não quis saber, afinal, que pra entender melhor de febre amarela que a Fátima Bernardes e o Willian Bonner?
O resultado desse estardalhaço nacional, todos já sabem, até ontem 33 pessoas internadas com superdosagem, duas em estado grave.
Mas me chamou atenção o resultado dessa irresponsabilidade jornalística aqui na minha cidade. O jornal de quarta-feira (23/01) estampava na primeira página:
" FEBRE AMARELA PROVOCA FILA DE TRÊS QUADRAS", e logo abaixo: " medo de contrair a doença infecciosa levou centenas de pessoas a esperar durante horas pelas 500 vacinas disponíveis e muitas não conseguiram."
No corpo da reportagem, uma frase me chamou atenção: "Embora as autoridades tenham deixado claro que é desnecessário buscar proteção quem não vai viajar para as áreas de risco, a população se inquieta a cada caso noticiado. E é esse medo que leva muitos a mentir que estão de viajem marcada, como forma de garantir a imunização."
Bem, qual a razão desse jornal não ter colocado na capa:
"PELOTAS NUNCA REGISTROU UM CASO DE FEBRE AMARELA NA SUA HISTÓRIA"?
Por que razão a mídia tem que semear o pânico dessa forma? Por que em momentos como esse, ela não serve de agente amenizador e informativo?
O resultado para a cidade foi o seguinte:
- Desgaste das autoridades de saúde, que embora tivessem 500 vacinas numa cidade livre da febre, foram consideradas incompetentes e responsáveis por deixar a população a mercê de uma epidemia.
- Algumas dezenas de pessoas que de fato iriam viajar tiveram que cancelar sua viajem.
- Cambistas vendendo lugares em filas, numa atitude das mais mesquinhas do ser humano, independente da necessidade.
- Ocupação desnecessária de postos de saúde, com redução no atendimento a quem realmente necessitava (em geral, crianças)
Isso só na minha cidade, imaginem pelo Brasil afora!
E eu pergunto, caros amigos:
O papel da imprensa nesse caos, não foi decisivo?
Ficou claro pra mim que a força que a mídia adquiriu sobre as massas ganhou proporções perigosas. Principalmente se ela continuar se revelando irresponsável como nesse caso.
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7 comentários:
Daniel,
Não saberia dizer o tamanho do problema que temos no país nesse caso da febre amarela.
De qualquer forma, acredito que o papel da imprensa seja decisivo na grande maioria das informações que circula na mídia. A tal da ética que anda distorcida já há algum tempo. Vale para a cobertura sensacionalista de tragédias como um acidente de avião, para a exposição irresponsável da imagem de algumas pessoas, para propagar a desinformação de temas polêmicos etc.
Tudo isso "apenas" para vender mais jornal.
Infelizmente cabe aos leitores/espectadores aprenderem, na marra, a filtrar certas coisas. E sei que não é fácil.
Daniel (aqui eu posso escrever?!), estive pensando em me unir a você, Andrea e Stefan, tendo a Mila como vocalista. e formarmos a banda de rocka pesado "Yellow Fever".
O logotipo da banda é o mesmo da Globo, só que todo amarelo, claro.
corrigindo; rock.
O nome pode ser "Sezão" também.
PS) e viva a liberdade
Primeiro, sobre a irresponsabilidade da imprensa: é algo preocupante e não é nenhuma novidade que a imprensa, muitas vezes, trata de fatos de forma irresponsável e exagerada. O maior exemplo é o da Escola Base, em São Paulo, em que os donos foram acusados de abusar sexualmente dos alunos. Ficou comprovada a inocência dos suspeitos. Infelizmente, o estardalhaço feito pela mídia sobre o caso deixou marcas profundas na vida dessas pessoas. Quanto aos casos de superdosagem de vacinas contra febre amarela, acho muito simplório colocar a culpa na imprensa. Qualquer vacina ou outro medicamenteo pode causar efeitos colaterais e levar a morte. E não precisa ser uma superdosagem. Sou um exemplo disso. Em 2006, fui vítima de um medicamento, receitado por uma médica, que provocou efeitos que quase me levaram à morte, quase lesaram meu cérebro e quase me fez perder os dois braços. Um remédio tomado de forma corriqueira por uma boa parcela da população mundial. A culpa não foi da médica que me receitou nem muito menos do laboratório que fabrica o remédio. Houve uma série de fatores que ocasionaram os efeitos colaterais. Por isso, como disse, acho um pouco simplório, no caso das pessoas internadas e mortas devido à superdosagem, colocar a culpa na imprensa.
Dani, apesar de discordar, EM PARTE, do que você escreveu, gostei de ver você no blog.
Beijos!
Romyna, obrigado pelas boas vindas.
Mas é o seguinte:
Você teve efeitos colaterais devido a ingestão de determinado medicamento. Mas se você fosse alertada dos riscos que corria, e também alertada de que não precisaria tomar esse remédio, você o tomaria mesmo assim?
Creio que não. Por isso não vejo de forma "simplória" colocar a culpa também na imprensa. Essas pessoas foram ao posto de saúde apavoradas por uma epidemia que estava acontecendo no País, quando na verdade não estava. E certamete foi perguntado a elas se elas já haviam se vacinado, e dos riscos que corriam, mas elas não se importaram, pois a IMPRENSA disse que a situação era periclitante.
Não é simplório não Romyna, acho até bem plausível.
Beijos!
Daniel, talvez eu tenha usado a expressão errada. Pode ser "perigoso" - e não "simplório" - responsabilizar somente a imprensa pelo que está acontecendo no caso da febre amarela. São muitos os fatores - educação, informação, políticas públicas voltadas à saúde etc. - que levam as pessoas a se vacinarem, por exemplo, duas vezes em menos de uma semana para evitar um doença. Não se pode ignorar esses fatores. Como disse anteriormente, concordo quando você fala da irresponsabilidade da imprensa brasileira, tanto que, como jornalista, optei trabalhar fora dela, por questões éticas. Mas, neste caso, vou discordar de você. O número de mortes por febre amarela foi maior que o número de morte por superdosagem de vacina. Se a imprensa não informar, como a população vai se proteger? Resta ao Poder Público fazer sua parte e informar corretamente também os profissionais de saúde sobre como agir. Onde estavam os cartões de vacinação dessas pessoas que tomaram superdosagens? Foi feito, no ato da vacina, um breve histórico da pessoa a ser vacinada? Foi ao menos perguntado: qual a última vez que você vacinou. Foi explicado, naquele momento, as consequências que poderiam haver? E campanhas locais sobre febre amarela e vacinação, foram feitas? Tudo leva a erros. Não só a imprensa.
Beijão, gatinho! Adoro você!
" Principalmente se ela continuar se revelando irresponsável como nesse caso."
Daniel,
ela não é irresponsável, ela segue os interesses de uma classe.
Sempre mermão, sempre...
não temos o direito de nos iludir.
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