quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

QUARTA POÉTICA




Ingratos
Dom Pedro II

Não maldigo o rigor da iníqua sorte,
Por mais atroz que fosse e sem piedade,
Arrancando-me o trono e a majestade,
Quando a dois passos só estou da morte.

Do jogo das paixões minha alma forte
Conhece bem a estulta variedade,
Que hoje nos dá contínua felicidade
E amanhã nem um bem que nos conforte.

Mas a dor que excrucia e que maltrata,
A dor cruel que o ânimo deplora,
Que fere o coração e pronto mata,

É ver na mão cuspir a extrema hora
A mesma boca aduladora e ingrata,
Que tantos beijos nela pôs - outrora.


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Terra do Brasil
Dom Pedro II

Espavorida agita-se a criança,
De noturnos fantasmas com receio,
Mas se abrigo lhe dá materno seio,
Fecha os doridos olhos e descansa.

Perdida é para mim toda a esperança
De volver ao Brasil; de lá me veio
Um pugilo de terra; e neste creio
Brando será meu sono e sem tardança...

Qual o infante a dormir em peito amigo,
Tristes sombras varrendo da memória,
Ó doce Pátria, sonharei contigo!

E entre visões de paz, de luz, de glória,
Sereno aguardarei no meu jazigo
A justiça de Deus na voz da história!

2 comentários:

Anônimo disse...

se houver interesse em saber mais sobre esse personagem fascinante de nossa historia, recomendo o livro as barbas do imperador de lilia moritz schwarcz.

Luiz Botelho disse...

Cris, umas das minhas paixões são livros biográficos. Procurarei hoje mesmo o livro recomendado. Obrigado!