sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

A regra deveria ser mais clara



Luiz Botelho


Quando eu acompanhava os jogos do Bahia das arquibancadas dos estádios, não perdoava os erros que o trio de arbitragem cometia contra meu time. Em coro com os demais torcedores, eu xingava e ameaçava de morte aqueles homens de preto (na minha época, geralmente, eles usavam essa cor) que estavam ali, tão somente, para prejudicar meu clube.

Hoje, acompanho os jogos apenas pela televisão ou pelo rádio e me sinto bastante incomodado com as críticas sistemáticas feitas aos árbitros pelos narradores, comentaristas, jogadores, treinadores e dirigentes, que perderam, ou nunca tiveram, o devido respeito por aqueles que deveriam, de fato, serem tratados como autoridades máximas dentro de um campo de futebol.

Muitas vezes um árbitro é responsabilizado pelo número excessivo de faltas cometidas durante uma partida, “por não ter pulso para conter a violência em campo, transformando o espetáculo em uma verdadeira batalha campal”. Outras vezes a crítica é feita em razão de o árbitro aplicar excessivamente os cartões amarelo e vermelho “por querer aparecer mais do que os jogadores que são as verdadeiras estrelas do jogo”.

Pelo menos no que diz respeito à autonomia das decisões dos árbitros, a regra deveria ser mais clara: jogadores ou treinadores que reclamassem veementemente do trio de arbitragem, o que é muito comum aqui no Brasil, seriam imediatamente expulsos de campo e receberiam punições exemplares dos tribunais esportivos; dirigentes que fizessem declarações públicas ofensivas ou que tentassem de alguma outra forma pressionar ou intimidar qualquer membro da arbitragem, o que também é muito comum no Brasil, seriam definitivamente excluídos do futebol; os torcedores que tentassem atingir fisicamente os árbitros, mesmo que seja com uma “inofensiva” garrafinha de plástico, seriam identificados e proibidos de freqüentar os estádios, além das punições cabíveis aos clubes pelos quais torcem. A imprensa continuaria com total liberdade para fazer qualquer crítica à atuação dos árbitros, mas deveria, na medida do possível, ajudar a incutir no público em geral, que os eventuais erros cometidos por eles são inerentes a qualquer atividade exercida por um ser humano.

Tenho certeza que em pouco tempo nossos jogos ganhariam uma qualidade compatível com o nível dos nossos excelentes atletas e nossos árbitros seriam respeitados mundialmente. Talvez eu até me animasse a voltar a freqüentar os estádios de futebol. Se isso ocorrer um dia, vou tentar me controlar ao máximo para não falar mal ou ameaçar de morte aqueles homens de trajes coloridos que estarão ali, tão somente, para assegurar o bom andamento do espetáculo.

2 comentários:

" Sobre Todas as Coisas" disse...

Luiz...
Sou apaixonado por futebol. Sempre acompanhei meu verdão nos estádios e inclusive em outros estados.
E questão que vc coloca é interessante e que na minha opinião remete à destruição progressiva que o futebol vem sofrendo no Brasil e no mundo.E essa destruição vem de sua profissionalização, dele virar um negócio, um grande negócio.
Os interesses econômicos por trás de um "simples" jogo de futebol,
são gigantescos.
As arbitragens, como não poderia deixar de ser, não estão imunes a esse processo nocivo.
Por outro lado, por mais honesto
que seja um juiz de futebol, além das trocentas câmeras que o vigiam,
ele acaba sendo bode espiatório de
técnicos, jogadores, diretores de clube incompetentes.
Como resolver ?
Eu tenho algumas idéias, mas não passam pelo terreno meramente esportivo e não caberia colocá-las nessa postagem...
Sua postagem expressa a vontade de poder assistir tranquilo uma das facetas esportivas mais maravilhosas do ser humano:

uma partida de futebol !!!

compartilho com esse sentimento seu.

abração camarada.

Daniel disse...

É Luiz, esse seu pensamento é o meu também, e acho que progressivamente ele vem se tornando o pensamento de mais e mais pessoas.
Principalmente se esta em campo algum "intocável" do futebol brasileiro (leia-se um paulista ou carioca). Faço um desafio:
Perceba depois de um jogo que o time grande ganhou com gol de penalty. A narração do noticiário esportivo do dia seguinte é assim:
- Fulano entra na área e é derrubado por beltrano. Penalty que ciclano bate e marca...
Veja depois o que acontece quando um "pequeno" ganha de um intocável, também com gol de penalty:
- Fulano cai na área e o ÁRBITRO marca penalty, que beltrano bate para marcar...
Abraços.