quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

DIÁRIO DE BORDO No 1 - Data Estelar 11.12.2007

Um certo marciano carioca de pele esverdeada pela ausência de sol falou sobre a verdade das previsões dos horóscopos. A selenita paulistana de pele alvíssima pelo excesso de banhos de lua foi pesquisar o assunto. Captou o seguinte relato:


O meu horóscopo diz no jornal que terei maior “folga de grana” - assim mesmo, nesse semi-assassinato da língua – porque (explico sobre o termo “folga da grana”, já que o semi-assassinato se dá por motivos amplamente pessoais do assassino e nem discuto isso, credo!) tem mais dinheiro circulando no mercado, e isso o fará chegar até meus bolsos. Fico eufórica pois preciso de algumas coisas, muitas coisinhas e poucas coisonas novas e, todas elas, custam reais. Imediatamente pego o bloco de rascunho e faço várias listas de compras. Abro mentalmente a porta de cada armário da casa, vou rebuscando no fundo da mente as carências desses lugares por coisas. Nossa! Estou carente de tudo, desde o cotonete para o armário do banheiro ao feijão para o armário da cozinha. Descubro, apavorada, que faltam os botões escuros e retrozes de linhas claras, agulhas mais finas e alfinetes, tudo para a gaveta das coisinhas de costurar. Os alfinetes são imprescindíveis. Como fazer a barra da cortina da sala .... e percebo que minhas listas defendem, com vigor de candidato político, a precisão de cortinas, inclusive a da sala. Então é preciso colocar cortinas, presilhas e puxadores. Sabão em pó para a máquina de lavar, xampu para o suporte do box e sabonete para o cachorro, ou o contrário?
Tristeza imensa! As minhas panelas envelheceram e nem notei, talvez porque não as use, mas, coloco-as, empilhadinhas, num item da lista para a pia da cozinha. O fogão recebe a atenção das formas de bolo e pão, fósforos e um bulezinho para o café para todas as madrugadas. Como pude viver sem formas de pão? Como fiz o pão? Não o fiz e aí a lista de livros de culinárias me alerta a inexistência de nenhum sobre pães salgados ou mesmo os doces. Anoto tudinho. O bloco de rascunho se esgota. Imagine quanto dinheiro vou precisar para tanto! Nem me preocupo porque o horóscopo diz que tem muito dele girando por aí e que boa parte está rumando para a minha vida. Listas e listas que fiz, coloco-as em ordem alfabética e as prendo com um prendedor enorme, daqueles que tem um sapo enfeitando. Anoto a compra de uma grande bolsa para acomodar minhas listas. E também blocos de rascunhos porque não se sabe quando novas listas acontecerão. Tenho que dormir cedo. Vou ter que andar por aí e ali até conseguir comprar tudo o que minhas listas ditam. Será cansativo, mas na lista da sapateira tem chinelinhos macios e, na do toalete, sais relaxantes de banho. Na lista das coisas para a cama, um lençol de seda e colcha bem felpuda. Anotado!
O dia surge com chuviscos. Tem guarda-chuva na lista dos apetrechos de sobrevivência urbana? Levanto pensando no novo aparelho de café que vou ter e no sofá onde vou me esparramar. Encontro o jornal do dia. Abro suas páginas e procuro saber em que quilômetro está o dinheiro circulador. Está se aproximando? Não acho. Ué? Cadê? Não devia ter notícias dele? Afinal, com tanta circulação, deve ter causado ventarolas de montão, levantado algumas saias desavisadas e arrancado bonés mal encaixados, despenteando e arruinando obras da arte capilar contemporânea! Nenhuma notinha sobre o tal. As listas estão me olhando fixamente, cobrando providências e, como tenho pavor da revolta de coisas inanimadas, pego a carteira e tiro o parco conteúdo. Anoto numa nova lista e consulto o saldo bancário (precário). Somo. Não dá nem para comprar os novos blocos.
As listas que me desculpem, mas tratem de tirar satisfações com o tal “mercado” onde circula o dinheiro que não arrombou (nem arranhou) a porta de casa. Eu, por mim, vou lastimar o chinelinho macio que não vou ter, mas, o relaxante terei sim. Ah! Terei as mãos macias de algodão de quem é feito de seda e paixão. Vamos dar risadas. Isso é o importante. Aproveito apenas a lista dos vinhos que fiz para a prateleira do bar. Das músicas, escolho uma daquelas nossas, que temos há séculos. Depois? Que tal lermos o horóscopo novo? Não! Melhor a previsão do tempo! Vai dar praia ou não? Pouco importa.

Resposta da Selenita para o Marciano
“Quem não encontra o seu chão, faz seu castelo no ar.”
GINGADO DOBRADO - Cacaso/Edu Lobo

5 comentários:

Anônimo disse...

“Quem não encontra o seu chão, faz seu castelo no ar.”
GINGADO DOBRADO - Cacaso/Edu Lobo

A única coisa que me incomoda nessa comunidade é essa mania que o povo tem de citar esse Edu Lobo. Quem é esse cara? No mais, acompanho as crônicas da minha MIGUINHA há algum tempo. Pretendo continuar. Ah, já ia me esquecendo: Salve, Magnão! Agora, vou ouvi A Moça do Sonho, de um tal EDUARDO DE GÓES LOBO.

Beijocas!

BIM disse...

Edu Lobo? Chefe de alguma alcatéia carioca? Traficante de boas melodias? Sei não! Ouvi falar que tem futuro!

Romyna Lanza disse...

Li, certa vez, que é exatamente isso: traficante de boas melodias. Vinícius também achava que o rapaz tinha futuro.

Romyna Lanza disse...

Li, certa vez, que é exatamente isso: traficante de boas melodias. Vinícius também achava que o rapaz tinha futuro.

Anônimo disse...

"O tempo passa, o relógio marca...
mas a cantiga da perua é uma só!