segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

À primeira vista

Há bastante tempo, trago comigo uma grande frustração em relação à música: nasci e cresci tendo-a como companheira de todas as horas e, nesses 33 anos de vida, o máximo que consegui aprender foi saber diferenciar a boa da ruim. E, em se tratando dela (da boa, claro!), me considero extremamente reacionária. Me pergunte de qual banda ou cantor(a) dessa nova (e minha!) geração eu gosto, e ouvirá como resposta: mas se nem sei quem são!

Nunca encontrei motivos para tal rebeldia; simplesmente, e sem motivo aparente, me recuso a tentar ao menos conhecê-los. Buscando resposta, penso: seria influência do meu pai? Acredito que sim, já que, "coincidentemente", minhas duas últimas grandes paixões chegaram aos meus ouvidos atráves de suas mãos: Chico César e Cássia Eller.
Então, depois de pensar muito sobre o que escrever aqui no blog, resolvi falar do meu encantamento por esse paraibano tão doce quanto doido, tão revolucionário quanto careta.
Quando conheci "Aos Vivos" - seu primeiro CD - já sabia que seria amor eterno e incondicional. E a prova maior disso foi que me entusiasmei tanto a ponto de ter coragem de presentear meu ex-sogro - um cara completamente alheio à boa música e reacionário em TODOS os sentidos - com um exemplar. Imaginei que, sendo o Chiquinho um artista tão encantador, seria a chance de fazer com que o Sr. Orlando se rendesse à música de qualidade. Ingênuidade minha. O namoro com o filho dele acabou seis anos depois e o CD continuou ali, intacto, ainda plastificado.

Em mim, a revolução estava feita. Depois de muito ouvir Elis, Tom, Edu, Milton, Bethania, Caetano e Gal, consegui desfocar do time fechado dos craques e me aproximar de um baixinho que estava tentando sair do banco de reserva. Um cara que também batia um bolão e finalmente estava conseguindo jogar, nem que fosse por dez minutinhos ao final do segundo tempo.
Depois do primeiro disco vieram outros, cada um mostrando uma faceta diferente do meu neguinho. E com o estádio vazio ou lotado, em dia de chuva ou de sol, sozinha ou acompanhada, lá estou eu, presente em todos os shows do Chiquinho, menos naqueles feitos em outros estados e fora do país - como Japão, Itália, Alemanha, França etc -, é claro.
Desde "Aos Vivos" até "De uns tempos pra cá" (o último e na minha opinião, o melhor), compartilho com vocês um pouquinho de Francisco César Gonçalves, cantor, compositor, escritor e jornalista brasileiro, nascido em Catolé do Rocha, aos 26 dias de janeiro de 1964.
Mulher eu sei
Eu sei como pisar no coração de uma mulher
Já fui mulher eu sei
Já fui mulher eu sei
Para pisar no coração de uma mulher
Basta calçar um coturno
Com os pés de anjo noturno
Para pisar no coração de uma mulher
Sapatilhas de arame
O balé belo infame
Eu sei como pisar no coração de uma mulher
Já fui mulher eu sei
Já fui mulher eu sei
Para pisar no coração de uma mulher
Alpercatas de aço
O amoroso cangaço
Para pisar no coração de uma mulher
Pés descalços sem pele
Um passo que a revele
Já fui mulher eu sei

Respeitem meus cabelos, brancos
Chegou a hora de falar
Vamos ser francos
Pois quando um preto fala
O branco cala ou deixa a sala
Com veludo nos tamancos
Cabelo veio da áfrica
Junto com meus santos
Benguelas, zulus, gêges
Rebolos, bundos, bantos
Batuques, toques, mandingas
Danças, tranças, cantos
Respeitem meus cabelos, brancos
Se eu quero pixaim, deixa
Se eu quero enrolar, deixa
Se eu quero colorir, deixa
Se eu quero assanhar, deixa
Deixa, deixa a madeixa balançar

Papo Cabeça
Cabeça cortada de lampião
Miolo esmagado de trotsky
Bandeja servindo batista
Na festa indigesta prá são joão
Papo cabeça
Papo cabeça
Papo cabeça
Cabeça de prego: martelo
Cabeça de vento: ilusão
Cabeça de homem: chapéu
De mulher: xale, coque ou véu
Cabeça de compasso: tempo
Cabeça do grupo: opressor
Cabeça de negro ou turco: chá e preconceito
Cabeça do pênis: glande, felátio, condon
Gente cabeça: amigos e presunção
Papo cabeça
Papo cabeça
Papo cabeça
Suja: nenhum xampu lavará
Limpa: ausência de idéia ou malícia
Fresca: calma
Muito fresca: socialite
Quente: confusão
Para por cocar, se orientar
Capacete, barrete, filá
As idéias em ordem: repensar
Quebrar a cabeça: reflexão e tesão
Pro sangue ter prá onde subir
Pro porrete saber onde descer
Pro monge tibetano meditar: zen
Prá onde o gesto vai a cabeça foi
Mas já vem
Papo cabeça
Papo cabeça
Papo cabeça

E tantas, tantas outras! Infelizmente não há espaço suficiente para colocar tudo o que tenho vontade, aqui. Finalizo, então, deixando um convite para que vocês conheçam uma das minhas grandes paixões: http://www2.uol.com.br/chicocesar/
Lá, vocês irão descobrir que ele já publicou também um livro de poesias. Uma ótima sugestão para quem estiver pensando no que me dar de presente de Natal! :-)

4 comentários:

Romyna Lanza disse...

Algumas observações:

Mari, pare de mentir a idade.
Não se deixe influenciar pelo seu pai.
Quanta tá recebendo de comissão do Chico César pra fazer propaganda dos seus discos para o Natal?

Aaaaaaaaaah, colega, sou sua fã.

Engraçado o quanto sou radical também para músicos da nova geração. Mas gosto do Chico César. Boa lembrança.

Beijocas, dona Mariana Mantu.

Ass: Mó Rata

Stefan disse...

Chico César,

um caso à parte.

Veio prá arrasar ...e soube pisar

no coração da gente.

Posseiro.

" De uns tempos para cá "

com Quarteto de Cordas da Paraíba

é prá lá dos nossos tempos

Atemporal

Faz chover no ser tão

Menino, emoção.

Mariana Mantu disse...

Rata Lanza,

nesses tempos bicudos, até que seria uma boa. O rapaz agora tá chique, é internacional. Vou "assuntar", quem sabe rola mesmo um dim dim.
Quanto à minha idade, tú tá me chamando de velha, né? Magooei.

Anônimo disse...

Querida Mariana. No bairro que eu moro em Salvador tem um bar que frequento desde sua inauguração, em 1984. Até dois anos atrás, este bar funcionava de segunda a sexta para o público em geral. No sábado, a partir do meio dia, apenas os clientes mais antigos tinham acesso a suas dependências e passávamos a tarde toda ouvindo músicas em CDs/DVDs que levávamos entre antigos e lançamentos. Um belo dia, um dos nossos companheiros levou um CD de um cantor desconhecido, de aspecto, digamos assim, estranho. Ouvimos o CD e todos nós,unanimemente, profetizamos que ali estaria surgindo uma nova estrela da MPB. O CD era AOS VIVOS de Chico César cuja lembrança você teve a felicidade de me trazer hoje. Obrigado querida e, creia, escolherei uma pessoa de quem gosto muito e a presentearei neste Natal com um dos trabalhos desse magnífico artista.